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Gestão Doria descarta até 35% de remédio doado no mês do vencimento; atual descarte de volume é quase 5 vezes maior que em 2016

Esta nota foi atualizada com a resposta da prefeitura de SP

De Alana Ambrósio na CBN:

A prefeitura de São Paulo precisou jogar fora até um terço de remédios doados por laboratórios farmacêuticos em 90 dias. Os medicamentos foram entregues pelos fabricantes com data próxima do vencimento, conforme a CBN mostrou em junho. O volume do descarte na atual gestão é quase cinco vezes maior que no ano passado.

Os laboratórios doaram à gestão Doria 165 tipos de medicamentos. Metade foi entregue com menos de um ano de validade, conforme a CBN revelou em junho. Por lei, esses remédios não poderiam ser comercializados pelos fabricantes.

No meio do ano, o prefeito João Doria negou que os remédios perto de vencer estocados nas unidades de saúde teriam descartes significativos.

Mas o que era pra ser solução não saiu como planejado. A CBN teve acesso com exclusividade à lista dos comprimidos que precisaram ser descartados nos meses de junho, julho e agosto. Há entre eles antidepressivos, antipsicóticos, diuréticos e antibióticos.

O total de medicamentos jogados fora nestes meses é de quase três toneladas. Foram 157 mil comprimidos descartados contra somente 35 mil no mesmo período do ano passado, quase cinco vezes mais.

A aposentada Sueli Aparecida teve que jogar fora o remédio gástrico Omeprazol, que venceu em junho.

‘Chegou a vencer eu joguei, porque achei um absurdo. Se na farmácia não pode vender, por que eles podem dar? Minha mãe tem 86 anos, não vou dar uma coisa assim para minha mãe. Tive que jogar fora.’

A caixinha de Omeprazol da Sueli está entre as sete mil que não foram aproveitadas, 25% do total doado entre junho e agosto.

No caso do antidepressivo Clonazepam, do total de 19 mil frascos doados, quase sete mil, ou 35%, acabaram no lixo. No ano passado, só 52 unidades acabaram descartadas.

Já o diurético Espironolactona teve 58 mil comprimidos jogados fora em julho, 22% do total doado. No ano passado, apenas 354 unidades foram descartadas. A amtriptilina, um antidepressivo, teve 54 mil comprimidos que acabaram inutilizadas. No mesmo período de 2016, esse número não chegou a 1500.

Foram parar no lixo ainda 14 mil unidades do antibiótico Claritromicina e 6 mil do medicamento para hipertensão Anlodipino.

A prefeitura explica que há mais motivos para o descarte de remédios além do vencimento, como problemas na embalagem, condições de armazenamento ou recall dos produtos.

A gestão Doria alega que o descarte foi maior em 2017 na comparação com o ano passado pela escassez de remédios na administração anterior.

Mas, de acordo com o site  “Aqui Tem Remédio” da Prefeitura, no ano passado havia estoque desses medicamentos.

(…)

A prefeitura de SP mandou a seguinte nota ao DCM:

Com relação à reportagem “Gestão Dória descarta até 35% de remédio doado no mês de vencimento; atual descarte de volume é quase 5 vezes maior que em 2016 ”, veiculada pela rádio CBN, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo reitera que o índice de medicamentos doados descartados neste ano chegou a 0,2% do total recebido. Apenas um dos medicamentos recebidos em doação atingiu o índice de 35% e, ainda assim, não puxou a média geral, levando-se em consideração de que há medicamentos com índices inferiores a 0,1%.

Apesar de a reportagem da CBN ter recebido com exclusividade a lista dos comprimidos descartados, a informação veiculada está equivocada. Além disso, na postagem no site da emissora de rádio, foi suprimida a coluna onde consta o total recebido em doações (mais de 81 milhões de doses/comprimidos). Do montante, foram descartados 156.908. Ciente de tal informação, o internauta que navega pelo site teria percebido a distorção dos dados em uma conta rápida.

A reportagem da rádio também errou ao citar a porcentagem do descarte por imprestabilidade de Omeprazol 20 mg, que foi de 0,45% entre junho e agosto de 2017. Mesmo com o documento em mãos, a reportagem da CBN afirmou que a porcentagem foi de 25%.

É importante destacar que a jornalista da CBN foi advertida previamente sobre a distorção em comparação com o mesmo período do ano anterior, uma vez que, sabido pela imprensa, o volume de compras em 2016 foi menor, gerando, inclusive, a crise que levou a atual gestão, de forma emergencial, a solicitar doações à indústria farmacêutica.

Por fim, mais um equívoco da reportagem da CBN ao afirmar que segundo o site/aplicativo Aqui Tem Remédio havia estoques no ano de 2016. Uma impossibilidade de fato, pois os dados do aplicativo são uma fotografia do dia anterior e só são visualizados quando o estoque está acima de níveis considerados mínimos nas unidades para evitar que o estoque chegue ao fim. O sistema mostra como chegar às unidades indicadas e qual a condução a ser utilizada. A busca é feita dentro de uma área de abrangência de até cinco quilômetros.

As informações do site/aplicativo são atualizadas diariamente ao fim do dia, de acordo com a movimentação de estoque das unidades.