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Impeachment é “gasolina na fogueira política” e “piora o clima econômico”, diz cientista político da FGV

O cientista político e professor de Processo Legislativo da Fundação Getulio Vargas do Rio, Michael Mohallem falou sobre o impeachment ao Globo.

O quadro econômico de recessão vai influenciar as eleições do ano que vem?

As esferas política, econômica e também jurídica são inter-relacionadas. Existe uma reciprocidade de impactos: o que acontece na política e no campo jurídico impacta na economia e vice-versa. As investigações na Lava-Jato pioram a incerteza no setor privado. Isso agrava o quadro econômico, porque empresários deixam de fazer novos investimentos, e essa piora econômica contamina o humor do eleitor. Um dos pilares da percepção sobre liderança e solidez de um governo é a economia. Quando ela vai bem, o eleitor tende a querer manter o governo; quando se deteriora, quem se opõe ao governo tende a se beneficiar. Um eleitor desanimado com a situação tende a votar em quem apresente discurso de mudança. Por isso, haverá, sim, na próxima eleição, um favorecimento de quem tenha esse discurso, e até os candidatos de quem está na situação vão tender a se apresentar como algo novo, de mudança, por mais contraditório que isso possa parecer.

O fato de ser uma eleição municipal amenizaria esse efeito da crise econômica, que estaria mais identificada com o governo federal?

O eleitor não discerne muito bem o que são as diferenças de responsabilidades federativas entre União, estados e municípios. Não fica claro para ele que é uma crise econômica que poderia ser atribuída mais ao governo federal do que aos prefeitos; logo, os candidatos que se identifiquem com o governo Dilma ou com o PT tendem a ficar prejudicados. E os de oposição devem explorar isso, deixando claro que “esse está com a Dilma”.

Como a aceitação, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do pedido de impeachment de Dilma entra nesse quadro?

É uma gasolina na fogueira política, o que piora o clima econômico, e, portanto, o desânimo da população. Apesar de uma má condução econômica não ser motivo jurídico para pedido de impeachment, é algo que aumenta o grau de incerteza na política, o que faz aumentar o grau de incerteza na economia e nos ajustes econômicos.