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Janot diz que Davos está “entusiasmada com o processo” da Lava Jato

Do Valor:

 

Valor: Como o sr. recebeu o convite para vir a Davos e que mensagem pretende transmitir?

Rodrigo Janot: O convite foi devido à curiosidade deles quanto ao exercício no Brasil de combate à corrupção. Há uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial chamada PACI (Iniciativa de Parceria contra a Corrupção) e eles estão curiosos em entender o processo que se desenvolve no Brasil. O recado que a gente passa é: quanto mais se combate a corrupção, mais sadio é o mercado, mais segura é a competição entre todas as empresas. O que se quer é evitar o capitalismo de compadrio, a cartelização, assegurar a concorrência, a eficiência econômica e o desenvolvimento tecnológico. Se é para ser capitalista, vamos ser capitalistas de vez. Não dá para ser pela metade.

Valor: Nas primeiras conversas, o sr. percebeu alguma dúvida dos investidores sobre a Lava-Jato?

Janot: Eles estão, até agora, entusiasmados com o processo. Eu só ouvi elogios ao Brasil por essa liderança, que eles ouvem no mundo inteiro, no combate à corrupção.

Valor: A Petrobras era uma presença constante em Davos e Marcelo Odebrecht, um de seus frequentadores assíduos. O sr. percebeu algum tipo de constrangimento aqui por causa disso?

Janot: Para mim, não gera nenhum. Se houver constrangimento, é para eles. Mas, sinceramente, não tenho visto isso. Acho que ninguém está interessado aqui em manter falta de competição no mercado. Não há quem ganhe com isso a não ser empresas cartelizadas.

Valor: A Lava-Jato é muito citada aqui como fator de imprevisibilidade para a retomada de crescimento no Brasil. O que o sr. diz a respeito?

Janot: Tirando o contexto da Lava-Jato, em qualquer economia de mercado, se uma empresa qualquer quebra, outras companhias médias absorvem rapidamente o espaço. Outro argumento que a gente ouve, de que acabar a tecnologia desenvolvida pelas construtoras, não procede. Quem detém a tecnologia não são as pessoas jurídicas; são os homens. Pelo que me consta, os engenheiros não estão presos. Eles não foram impedidos de trabalhar e não esqueceram a expertise que adquiriram.

Valor: Mas não é fato que a Lava-Jato tem inviabilizado a exportação de serviços de engenharia pelas construtoras brasileiras?

Janot: De jeito nenhum. As empresas têm que pensar no que fizeram. Elas têm o caminho da leniência. Fazendo os acordos, elas podem continuar no mercado. O que causa estranheza é por que não fazem a leniência ou demoraram tanto para fazer os acordos. Os fatos foram descobertos. Então, acordem.

Valor: Só que, se as multas aplicadas às construtoras são elevadas demais, elas ficam igualmente inviabilizadas…

Janot: As empresas fazem sua análise econômica. Se ela se vir inviabilizada pagando a multa, elas não fazem leniência. Os valores são compatíveis com o ganho espúrio que tiveram. Nada mais do que isso.

(…)