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“Jornal Nacional” invade a privacidade de parentes das vítimas da tragédia

De Maurício Stycer, no uol:

Na cobertura de uma tragédia do tamanho da que ocorreu com o avião da Chapecoense, com tantos elementos dramáticos envolvidos, o jornalismo da TV não precisou recorrer a truques baixos para fazer o espectador se emocionar.

Este foi o tema de um texto publicado na “Folha” neste domingo, mas escrito antes que eu tivesse visto a edição de sábado do “Jornal Nacional”. Queimei a língua. O principal telejornal da Globo, em que pese a extensa e boa cobertura dada aos acontecimentos, brindou o espectador com um momento de exploração grosseira do drama das famílias enlutadas.

Uma repórter registrou com o seu telefone imagens de áreas reservadas do velório, incluindo o interior do ônibus que levou parentes ao aeroporto de Chapecó e a tenda onde velaram os corpos, dentro do estádio.

Consciente da invasão de privacidade que estava prestes a cometer, a repórter Kiria Meurer ainda informou: “A partir deste momento, a nossa câmera, com cinegrafista, não pode entrar. Então eu vou gravando com o meu celular”.

No momento mais constrangedor, ela abordou uma mulher e perguntou: “Você é parente de quem?” A moça informou: “Sou esposa do fisioterapeuta, Rafael Lobato”. A repórter, então, fez a observação cretina: “Finalmente, então, acabou a espera”. Ao que ouviu: “Não. O pior vem agora”.

Diante da imagem de uma moça chorando, Kiria disse: “Do lado de fora, encontramos a namorada de uma das vítimas, que recebeu atendimento médico”. Em seguida, ouvimos o depoimento da jovem, entre lágrimas, dizendo que havia prometido buscar o namorado no aeroporto, mas não imaginava que seria desta forma.

Filmando a si mesma enquanto percorria a área do velório (imagem no alto), Kiria descreveu os bastidores do ambiente como se estivesse visitando um ponto turístico de Chapecó.

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