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Le Monde admite ter ignorado “parcialidade da mídia brasileira” em cobertura da crise

Da RFI:

 

Na edição antecipada de domingo (24), o mediador entre os leitores e a redação do vespertino francês Le Monde, Franck Nouchi, faz a seguinte pergunta: “Le Monde foi parcial na cobertura da crise politica brasileira?”

O questionamento foi feito depois do jornal ter recebido dezenas de cartas de brasileiros e franceses vivendo na França e no Brasil. O jornal cita a carta, que elogia como muito bem argumentada, de quatro brasileiras residentes em Paris,” movidas pela consciência do impacto que o Monde tem sobre a opinião pública “. Na carta, elas perguntam porque Le Monde escolheu a parcialidade para abordar a crise politica brasileira ao invés de indagar, abordar novos ângulos… e não seguir o coro uníssono da grande mídia brasileira.

Na mesma linha, Le Monde também levou em consideração o correio de um outro grupo de ex-exilados políticos brasileiros da França e da Bélgica, que interrogam porque não foram feitas reportagens mais balanceadas com personalidades de destaque como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros nomes, sobre suas razões para se posicionarem com tanta firmeza pela democracia. Na contramão, é citado somente um leitor que elogia diversos artigos e o mediador defende as coberturas de algumas matérias.

Parcialidade das mídias brasileiras é reconhecida

No entanto, reconhece e lamenta que o editorial de 31 de março, intitulado”Brésil: ceci n’est pas un coup d’Etat” (Brasil: isto não é um golpe de Estado, em tradução livre), não tenha sido equilibrado, em especial por ter omitido que os apoiadores do impeachment são acusados de corrupção, a começar por Eduardo Cunha, presidente da Câmara, assim como por não ter abordado suficientemente a parcialidade das mídias nacionais. Nesse contexto, o mediador lembra um dossiê completo publicado em janeiro de 2013 pela ONG Repórteres sem Fronteiras, que chamava o Brasil de “o país dos trinta Berlusconi”, lembrando que os dez principais grupos econômicos, familiares, dividem o mercado da comunicação de massa.

Finalizando, o jornal admite que o ideal teria sido enviar um jornalista de Paris para apoiar sua correspondente em São Paulo, Claire Gatinois, para relatar com mais profundidade as fraturas sociais da população, reveladas durante esta crise.