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Luciana Genro: “O PT morreu”

De Luciana Genro, em entrevista ao Povo:

Não sei se o mensalão não foi o momento mais difícil. Pela primeira vez, ali, foi revelado o fato de que o PT participava de forma tão intensa de negociatas e corrupção. Talvez agora seja pior porque naquele momento eles podiam alegar que era tudo mentira, que era perseguição e podiam erguer o braço na hora da prisão. Agora, com esse novo episódio (a operação Lava Jato), tudo caiu por terra, e o PT se desmoralizou completamente. Não tem mais chance de o PT recuperar a credibilidade diante da população e muito menos de ser uma representação genuína da esquerda.

A meu ver, já não era, mas, aos olhos de muitos, ainda era. Mesmo aqueles que são apegados afetivamente ao PT já sabem que o partido morreu. Não que não possa ter votos ou eleger parlamentares ou governadores, mas já é um partido igual aos outros, e isso é muito ruim para todos nós que fazemos política e queremos construir uma alternativa de esquerda.

O PT foi o partido que popularizou a esquerda no Brasil. Eu fui do PT dos meus 14 anos até 2003. Isso faz com que o PT tenha essa simbologia, nasceu das lutas populares, lutou contra a corrupção do Collor. A sua degeneração acaba afetando todos os que sonham em construir uma política diferente. Há muita gente desiludida indo pra casa. Por isso, aposto muito na juventude, que não se sente frustrada porque já conheceu esse PT degenerado, então nunca se identificou de forma tão intensa.

Não é casual que boa parte do meu eleitorado vem da juventude. O grande desafio que a gente tem é mostrar que o PT se degenerou não porque era um partido de esquerda e não porque todos os partidos se degeneram.

Muita gente pergunta isso: quem garante que vocês não vão fazer a mesma coisa? O PT se degenerou porque chegou ao poder numa circunstância política que ele próprio ajudou a construir, de alianças com segmentos conservadores e oligárquicos, como o (José) Sarney e o Henrique Meirelles (presidente do Banco Central de 2003 a 2011), representante de um setor estrutural do capital financeiro e político oriundo do PSDB. Eles chegaram ao poder não para destruir essas estruturas, mas para se adaptar a elas.

(…)