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Mãe de santo atacada por traficantes evangélicos está na Suíça, onde pretende pedir asilo

 

Do Uol:

É no recente autoexílio na Suíça que a mãe de santo Carmem Flores, 66, tenta reencontrar a paz que lhe foi tirada há cerca de um mês em Miguel Couto, bairro de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (RJ). Na tarde de 13 de setembro, o templo da sacerdotisa do candomblé sofreu um ataque de traficantes evangélicos, que a obrigaram a destruir todas as guias e estátuas do terreiro.

“Nunca passei por uma coisa dessas em 35 anos de casa aberta. Nunca passei por isso no Brasil. Nunca tive problemas com ninguém”, desabafou a ialorixá, também conhecida como Mãe Carmem de Oxum, em entrevista ao UOL por telefone. Ela também confirmou que, mesmo no exterior, ainda recebe ameaças.

“O capeta-chefe tá aqui. Taca fogo em tudo, quebra tudo, o sangue de Jesus que tem o poder (sic)”, diz um dos sete homens que participaram do ataque num vídeo divulgado pelos próprios traficantes, enquanto a vítima quebra os pertences do templo de candomblé.

Segundo ela, os agressores foram cumprimentados por vizinhos evangélicos do terreiro –o centro funcionava no local havia quatro anos, mas ela viveu no bairro por 35. Depois do ataque, Mãe Carmem e seus filhos de santo ainda ficaram no terreiro para garimpar o que se salvava em meio aos escombros.

Juntou o que pôde e conseguiu um abrigo temporário num imóvel desocupado de uma amiga. Mas não por muito tempo. “Havia uma ordem, não sei de quem e não sei de onde, de que esse chefe [do tráfico] não queria mais candomblé na comunidade. Perdi o imóvel, está fechado”, lamenta.

Como já tinha viagem marcada para a Suíça, resolveu se mudar até dezembro, mês em que o visto de permanência no país expira. Ela planeja pedir asilo político ao governo suíço por um período de seis meses. Em seguida, deve ir para os Estados Unidos –tudo com o apoio dos filhos de santo que moram no Brasil e no exterior.

Carmem de Oxum também diz que não pretende voltar à comunidade de Nova Iguaçu, tampouco ao Rio de Janeiro. “Está cheio de comunidades e de traficantes evangélicos. É como eles mesmos me disseram enquanto me atacavam: ‘Tá tudo dominado, é tudo nós mesmo, não queremos macumba e tambor'”.

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