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O que o termo “petrolão” diz sobre a imprensa

Trechos de um artigo da Carta Capital sobre o caso Petrobrás e a mídia:

O anseio de enquadrar o PT tem como face simbólica o uso do termo “petrolão”. Ao que consta, a expressão foi cunhada pelo deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB-BA), líder da oposição, mas foi atrelada por parte da imprensa, como as revistas Veja e Época e determinados colunistas, às investigações da Lava Jato.

A ligação pode ter sido feita sem qualquer senso critico, mas pode, também, ter ocorrido por conta de um intuito político específico – o de reforçar a imagem, construída com base em retratos parciais da realidade, de que o PT é o único partido corrupto do Brasil. O termo “petrolão” tem essa capacidade por duas razões: porque é uma alusão ao “mensalão”, que levou petistas graúdos para a cadeia, e porque circunscreve a corrupção à Petrobras, há 12 anos administrada pelo Partido dos Trabalhadores.

Não seria exatamente uma novidade se por trás do termo existisse uma questão política. Há uma fração significativa da grande imprensa dedicada a tornar verdadeira a tese do PT como dono de um monopólio da corrupção. Questionar essa “realidade” dentro de uma redação nunca é fácil.

Para repórteres e editores, costuma ser uma empreitada altamente sensível, quando possível. Para colunistas, é abrir a porta para os ataques pessoais, como demonstra um episódio recente, afinal, quem faz uma ponderação de alguma forma positiva para o PT só pode estar recebendo dinheiro sujo para tanto, não é mesmo?

Na sexta-feira 21, o empresário Ricardo Semler, filiado ao PSDB e ex-professor do MIT, publicou na Folha de S.Paulo artigo com o título “Nunca se roubou tão pouco”, no qual fazia ponderações a respeito da corrupção no Brasil. Semler afirmava que é impossível fazer negócios com a Petrobras sem pagar propina, que não votou em Dilma e que o “processo de cura” da corrupção é “do país, não de um partido”.

Isso bastou para que, na mesma Folha no dia seguinte, o articulista Demetrio Magnoli, cujo alvo preferido é o PT, incluísse Semler no rol dos “áulicos” que desejam “normalizar o escândalo” e insinuasse que o autor só tem as opiniões expostas por ter um contrato com os Correios.