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Professora acusada de protestos violentos diz que polícia suspeitou de Bakunin

A professora universitária Camila Jourdan, 34, deu entrevista à Folha. Ela é uma das protagonistas do inquérito que responsabiliza 23 pessoas pela organização de ações violentas em protestos no Rio.

“Do pouco que li, posso dizer que esse processo é uma obra de literatura fantástica de má qualidade”, disse Camila, dois dias após conquistar sua liberdade provisória.

Em apoio de seu ponto, ela diz que a polícia colocou Bakunin — célebre anarquista do século 19 — entre os suspeitos depois de ouvir seu nome numa conversa grampeada.

De acordo com Camila, por volta das 6h de 12 de julho, véspera da final da Copa, três policiais civis invadiram o apartamento da professora, que estava acompanhada do namorado, Igor D’Icarahy, 24, com mandados de prisão contra ambos.

Segundo o inquérito, os agentes encontraram uma garrafa com gasolina, uma bomba de fabricação caseira e outra conhecida como “cabeção de nego”. Em diálogos grampeados, Camila faz referências a “livros” e “canetas”, que, segundo os investigadores, seriam respectivamente coquetéis molotov e rojões.

Camila se recusou a falar sobre provas contra ela por orientação de Marino D’Icarahy, seu advogado e pai de Igor, que diz que as provas foram plantadas pela polícia.

Às referências constantes a seu nome no inquérito, Camila atribui uma razão: “existe uma necessidade de se fabricar líderes para essas manifestações. E quem se encaixa muito bem no papel da mentora intelectual? A professora universitária. Cai como uma luva, entendeu?”

Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Camila Jourdan sempre foi associada à excelência acadêmica. Um currículo “invejável”, segundo um diretor da UERJ. Formada em filosofia, concluiu o doutorado pela PUC-RJ, com direito a um período de estudos na Universidade de Sorbonne, em Paris. Sua tese foi sobre a obra do filósofo Ludwig Wittgenstein.

A professora recorre ao filósofo francês Michel Foucault para explicar que sua formação acadêmica está dissociada de sua participação na OATL (Organização Anarquista Terra e Liberdade) e na FIP (Frente Independente Popular), grupos acusados no inquérito de promover ações violentas em protestos.

“Foucault diz que os intelectuais descobriram que as massas não precisam deles como interlocutores. Não tenho autoridade para falar sobre a opressão de ninguém. O movimento não precisa de mim para este papel”.

O desempenho do governo Luiz Inácio Lula da Silva reforçou suas convicções: “O Lula era visto como a esperança de mudança e fez um governo à direita. Esfregou na cara das pessoas aquilo que os anarquistas sempre disseram: não adianta você mudar as peças do jogo se o problema é o jogo.”

 

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FOLHA