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Quem não é homem?, repetia agressor antes de mais um feminicídio em SP

Da Folha:

“Quem não é homem?”, perguntou André Luis Martins Santos repetidas vezes, enquanto estrangulava a mãe de seu filho, Mizaelly Mirelly da Silva, de 22 anos. Antes de morrer, a vítima ainda respondeu: “Você não é homem”, segundo depoimento de André à polícia, após ter confessado o assassinato.

Além de Mizaelly, o homem matou um bebê de sete meses, Miguel, registrado como seu filho. Segundo a investigação, os jovens tiveram um relacionamento, mas André era contra a gravidez e teria pedido que a mulher abortasse. Pernambucana, Mizaelly trabalhava em um supermercado em São Paulo e morava com a irmã, que estava fora da cidade no dia do crime.

Os corpos foram encontrados em 16 de agosto, na casa de Mizaelly, no Jaguaré, zona oeste de SP. A mulher estava seminua, com um lençol amarrado no pescoço. O filho foi achado em uma banheira de bebê, também despido.

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Não é exceção a forma como Mizaelly foi morta, descrita pela delegada responsável como feminicídio, quando a motivação do assassinato de uma mulher está ligada ao fato de ela ser mulher.

Ao menos outros quatro casos foram registrados em São Paulo em apenas dois dias.

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Para a delegada Ana Paula Rodrigues, que investiga o caso de Mizaelly, não há um aumento dos casos de homicídios de mulheres. “Esses crimes sempre existiram, mas estão aparecendo mais. Agora os órgãos estatais dão mais atenção, na investigação e atendimento da vítima.”

O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, concorda e destaca avanços legais, como a Lei Maria da Penha, 2006, e a Lei do Feminicídio, de 2015.

“Elas deram mais visibilidade a crimes do tipo, ao discriminar agressões contra a mulher de uma agressão comum.” Lima, da ONG que reúne especialistas no tema, aponta a profunda crise na segurança como agravante no combate ao feminicídio.

Já a representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, afirma que é fundamental atacar as raízes desse tipo de crime. “A causa é estrutural. É um crime de ódio, com crueldade. É a mesma coisa do estupro –o que motiva não é o desejo [sexual], é o desejo de dominação. ‘Agora eu vou demonstrar que tenho força, que eu sou seu dono, que tenho poder’. Essa é a base do machismo”, diz.

Assim, a especialista reforça a importância de debater o tema na educação. “Tem gente que ainda discute sobre educar ou não sobre gênero nas escolas, quando a base desses crimes é justamente essa desigualdade.”