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Ricos agem como membros do crime organizado, compara jornalista britânico

Prédio de empresa nas Ilhas Virgens Britânicas que abriu offshore para a Globo e também para traficantes de drogas e de armas.

O jornalista britânico Misha Glenny, ex-correspondente de guerra, disse em entrevista à BBC – onde trabalhou – que muita gente rica, inclusive no Brasil, se comporta como o crime organizado: não gosta de pagar imposto, pressiona as forças políticas, policiais e trilha atalhos para esconder ou lavar patrimônio, utilizando empresas de paraíso fiscal. Glenny observa de perto há 25 anos as emaranhadas redes do crime organizado e como elas espalham tentáculos pelo mundo. Ele testemunhou como a guerra civil que dividiu a Iugoslávia também serviu para criar nos Balcãs “uma máquina de crimes e contrabando com poucos paralelos na História”. Também documentou a ascensão e queda de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o traficante Nem, da Rocinha. Seu livro mais conhecido é “McMáfia: o crime sem fronteiras”, que terá uma edição ampliada publicada e que servirá de base para uma série da BBC. Leia a comparação que ele faz entre os ricos e o crime organizado:

O que me interessa realmente é ver como a cultura da máfia tornou-se um modelo atraente para uma parte da elite global, sobretudo no uso de paraísos fiscais para lavar dinheiro. Neste ponto, o escândalo dos Panama Papers (fraudes fiscais reveladas após vazamento de registros do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca) é muito importante.

Muita gente rica se comporta de forma parecida com os grandes grupos criminosos organizados: não gostam de pagar impostos, gostam de intimidar os governos e forças policiais e veem a si mesmos como acima da lei.

E quando você vê alguém como Donald Trump ser eleito nos Estados Unidos, você se dá conta de que há um crescente apetite pelo que não se comporta dentro do que se entende como regras de um bom governo. Muito disso tem a ver com 2008.

Nesta situação, as máfias estão perfeitamente posicionadas para explorar a angústia econômica, usar mecanismos como paraísos fiscais para lavar dinheiro e fazer pressão sobre pessoas como Trump. Porque, acredite em mim, se alguma organização de Trump recebeu dinheiro ou apoio dos russos, posso assegurar que o crime organizado russo teve um papel fundamental nisso.