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Sindicatos pró e antigoverno ensaiam união contra ‘medidas impopulares’

Da bbc:

“A vaca tossiu”, diziam cartazes empunhados por militantes da Força Sindical na Avenida Paulista, em meio a um protesto organizado pelas maiores centrais sindicais do país para se opor às “medidas impopulares” adotadas pelo governo recentemente.

A frase é uma referência a uma declaração feita pela presidente Dilma Rousseff em setembro, durante a corrida eleitoral, quando ela garantiu que não iria mexer no direito dos trabalhadores “nem que a vaca tussa”.

Para muitos sindicalistas, a presidente quebrou sua promessa de campanha ao mudar, com duas medidas provisórias, as regras de acesso ao benefícios trabalhistas e previdenciários ─ como pensão por morte, abono salarial, auxílio doença e seguro-desemprego.

Por isso, nesta quarta-feira, as principais centrais sindicais do país organizaram protestos conjuntos em diversas cidades brasileiras para pedir a revogação dessas medidas.

Estiveram envolvidas nas marchas desde a Central Única dos Trabalhadores (CUT) até a Força Sindical, Conlutas e UGT.

Mas se parece haver um descontentamento geral entre os sindicalistas com as novas políticas adotadas pelo governo para ajustar suas contas, também há divisões importantes entre seus movimentos, como explica o sociólogo Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Enquanto algumas centrais como a Força Sindical flertam com partidos de oposição, a CUT sempre foi mais próxima do governo ─ tendo, inclusive, apoiado a candidatura de Dilma ao segundo mandato.

“Os sindicalistas que apoiaram a presidente agora estão em uma saia justa para explicar mudanças em direitos trabalhistas e previdenciários”, diz Baía.

“A CUT ainda parece estar cuidadosa para não bater de frente com o governo ─ sua participação nos protestos parece quase um jogo de cena. Mas, se o governo continuar a anunciar essas medidas impopulares, ela vai ter de fazer uma escolha. Precisará sair de cima do muro se quiser levar as pessoas para as ruas”, opina.

No protesto desta quarta-feira, os líderes sindicais filiados a CUT de fato evitaram críticas diretas a Dilma, apesar de reclamar da “falta de diálogo” com o governo.

Uma militante da Central chegou a discutir com um manifestante com camisa da Força Sindical que carregava uma bandeira em que se lia:”Fora Dilma”.

“Não dá para partidarizar a nossa luta. Você tem de por aí também um ‘Fora Alckmin!'”, disse ele.

“O problema é que os cortes (nos benefícios sociais) foram decididos com uma canetada. Não consultaram nenhum representante dos trabalhadores”, opina Tião Cardoso, secretário-geral da CUT em São Paulo.

Erick Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos, ligado a CUT, garante que a central sindical consegue separar sua militância petista de seu trabalho como representante dos trabalhadores.

“Nossa visão é que há um jogo de forças dentro governo. A administração federal está errando ao tomar medidas que favorecem mais o mercado financeiro, mas vamos trabalhar para recobrar um equilíbrio de forças a favor dos trabalhadores”, explica.