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Tijolaço: ‘Temer na TV foi o Temer no Governo: um desastre’

Do Tijolaço:

Se o objetivo de Michel Temer ao falar, numa hora totalmente imprópria e com não apenas baixa audiência como baixíssima atenção, em meio já aos encontros de família da noite de Natal, era recuperar um pouco de sua credibilidade, que perca as esperanças.

Temer foi o que sempre é, quando fala: frio, inconvincente, desdenhoso.

Aliás, o texto que lhe prepararam só o ajudou a ser como é.

Troca a oportunidade de pedir licença para falar na noite de Natal, não se refere ao fato de as pessoas estarem reunidas em confraternização, não se coloca como parte neste encontro. Troca-o por dizer o óbvio (“dirijo-me a você nesta noite de Natal para transmitir mensagem”) e o formal (“de renovada esperança”). Melhor que isso só aquele “sirvo-me destas mal-traçadas linhas”.

Do ponto de vista objetivo, começa a fala dizendo que “a inflação caiu e voltou a ficar dentro da meta, o que vai colocar um freio na carestia que você sente no supermercado”. Errado, Temer, é no supermercado o único lugar onde as pessoas sentem uma certa “aliviada” da inflação, pela relativa estabilidade dos preços dos alimentos e bebidas. Mas é um momento péssimo para falar em queda da inflação, quando o cidadão de classe média se prepara para um janeiro de contas: IPTU, matrícula escolar, conta de luz (pelo consumo aumentado) e por tudo o que muda de preço com a mudança de ano, que os economistas do meu tempo chamavam de “inflação gregoriana”, por causa do calendário.

Aliás, do meu tempo também a a tal “carestia” que Temer usa. Até eu, que sou do tempo do “ronca”, estranhei.

Depois vem um enxurrada de “obras” que estão – algumas, para a sorte dele – distantes da vida das pessoas, ainda: o corte dos gastos, a reforma do ensino médio, a nova lei de estatais. E de coisas das quais as pessoas percebem na realidade, o inverso: o desemprego irá recuar e “os juros estão caindo e cairão ainda mais”.

E um otimismo de fé: “o próximo Natal será muito melhor que este”, único momento em que ele – implicitamente – reconhece que este é um desastre.

Mas televisão não é só texto, é imagem. E na imagem, Temer consegue a proeza de revelar-se nos gestos que acompanham a sua fala.

O primeiro, ainda que sem levantá-la, a mão com o dedo em riste. A segunda, as “espanadas” de mão, num gesto de desdém. Pode parecer bobagem, mas compõem o entendimento do que se diz com autoritarismo e desprezo, traindo o que ele tem, mas tenta esconder.

Por último, como não poderia faltar, a abjeção da “carona” na morte de D. Paulo Evaristo Arns, com uma musiquinha triste ao fundo, é a régua para medir a pequenez de um presidente que sequer teve o ato de lhe prestar uma homenagem póstuma, com medo de vaias.

Até mesmo na despedida, ao final da fala, Temer não se aproxima das pessoas e do momento em que o ouvem. Diz “muito obrigado a todos” e um imbecil “boa noite, Brasil”.

Talvez uma sinceridade inesperada: um “feliz Natal”, nem pensar.

Sabem por que? Porque Temer falou não para o povo, mas para seu ego, para mostrar que é capaz de “aparecer em público”.

É. Quando ninguém está prestando atenção nele.