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Um perfil da blogueira do Globo que ‘esculachou’ os pobres

Um texto da blogueira Silvia Pilz, do Globo, viralizou hoje. Nele, Silvia descreve a relaçào entre pobres e saúde.

“Todo pobre tem problema de pressão. Seja real ou imaginário. É uma coisa impressionante. E todos têm fascinação por aferir [verificar] a pressão constantemente. Pobre desmaia em velório, tem queda ou pico de pressão. Em churrascos, não. Atualmente, com as facilidades que os planos de saúde oferecem, fazer exames tornou-se um programa sofisticado. Hemograma completo, chapa do pulmão, ressonância magnética, ultra de bexiga cheia. Acontece que o pobre – normalmente – alega que se não tomar café da manhã tem queda de pressão.”

Nas redes sociais, o texto provocou manifestações de repulsa, sobretudo. Mas quem é ela? Abaixo, um perfil publicado no Globo:

Silvia Pilz não conhece meio termo. Dona do blog Zona de Desconforto, no site do GLOBO, a jornalista é do tipo que não mede palavras antes de expressar o que pensa. Ela diz que sempre foi assim, desde criancinha, e que não saberia ser diferente. O assunto pode ser tanto masturbação feminina quanto uma festinha infantil. São grandes doses de sinceridade sobre a natureza humana. Silvia escreve sobre cotidiano de uma forma que faz pensar e, às vezes, pode até incomodar.

— Acho que sou muito agressiva na maneira de escrever. Não conheço autocensura. Às vezes, escrevo um texto e mando para uma amiga para ter um retorno, para saber se está bom — diz a jornalista, que já colaborou para as revistas “Marie Claire”, “Piauí” e “Playboy”.

Filha de mãe hippie e pai punk (os dois paulistas), Silvia nasceu e cresceu em Ipanema. Hoje mora, sozinha, na Barra. Não tem tatuagem (“Não gosto de nada que seja permanente”), adora o perfume Baiser Volé, da Cartier (“Meu novo vício”), e acha que cupcakes são uma das coisas mais bregas da face da Terra. Mas o que se pode dizer mesmo sobre Silvia é que ela odeia, com todas as forças, modinhas. A onda do detox, por exemplo, ela abomina:

— Green people. Detox de um dia. A moça entregou o folheto de suco de palmeira-juçara da Mata Atlântica para a pessoa errada. Tenho pavor de modinhas. Minhas musas, Mana Bernardes e Isabela Capeto, não seguem regras e modas. Elas criam, e ambas têm brilho no olhar — diz.

Outra coisa que a tira do sério é “gente indo encontrar índio para rever origens e mudar a vida”. Mesmo para ela, que adora andar descalça, isso é o fim:

— Prefiro parar carro em vaga de deficiente, sem me sentir culpada — dispara a ex-aluna do Colégio Teresiano.

Apesar de odiar regras, Silvia acredita que o bom senso está em falta no mercado, principalmente em tempos de narcisismo e felicidade pasteurizada no Facebook e no Instagram.

— Tenho vários amigos que saem sem celular. Me deixa puta a pessoa que fotografa o almoço. Ninguém tem bom senso estético? Ninguém vê que a foto está horrorosa? Essa síndrome de revista “Caras” me incomoda demais —diz Silvia, que não suporta festa de família e nem amigo oculto de final de ano. — As pessoas estão vivendo à base do número de curtidas. Minha manicure fez um post sobre o aniversário da filha dela. Ela estava fazendo a minha unha e, nos momentos que dava, contabilizava quantas curtidas o post sobre a filha já tinha ganhado.

Sobre seus relacionamentos amorosos, ela afirma:

— Foram vários, sempre intensos e breves. O mais longo durou três anos. Já morei junto, mas nunca casei oficialmente. Não tenho nada contra casamento, mas quando olho um casal junto é como se eu estivesse vendo uma televisão com antena: é uma coisa rara, antiga e bonitinha. Não consigo. O casamento é o contrário da montanha-russa. Na montanha-russa, consigo entrar. No carrossel, pergunto a que horas termina. O cavalinho não voa. Na montanha-russa, pelo menos você tem um orgasmo enorme na hora da descida.

A sinceridade acachapante não afasta amigos. Pelo contrário: Silvia tem muitos. Alguns, dos tempos do colégio. Outros são mais recentes, como Isabela Capeto. As duas acabaram ficando mais próximas depois de uma entrevista que a jornalista, formada pela antiga Faculdade da Cidade, fez com a estilista.

— Silvia é uma pessoa livre, que não fica com melindres de falar ou não falar certas coisas — comenta Isabela. — Acho muito bacana porque é tão difícil nos dias de hoje. Ela escreve de uma maneira livre, tem humor e é irreverente. Faz as pessoas pensarem com seus textos. Bota uma pulga atrás da orelha. Como amiga, é divertida, gentil, generosa.

A geminiana Silvia, de 43 anos, diz que gosta de atenção.

— Apesar de ser uma pessoa muito atrevida, preciso muito da aprovação dos outros. Preciso do carinho até do porteiro. Se dou um “bom dia”, espero um “bom dia” de volta. Mas só busco a aprovação das pessoas que eu amo. Se um leitor fica ofendido com algo que penso, não me importo.

Muito do que Silvia escreve não passa de ficção. Mesmo assim, “Puta por um dia”, texto todo na primeira pessoa, chegou a enganar até mesmo alguns amigos. Ela gosta de instigar, excitar, aguçar a imaginação alheia ao escrever sobre desejo, tesão, êxtase, clímax. Coleciona fãs que a acompanham desde a época da “Playboy”. Já deu nota dez para o tradicional “papai e mamãe”: “Por motivos que eu desconheço, a posição foi injustamente classificada como pouco prazerosa, careta, nada criativa. Tornou-se sinônimo de sexo insosso. E não é”.

E um livro, tem vontade de escrever?

— Não. Tem gente que fala que não sou jornalista, mas escritora. Mas não sei o que aconteceu que está todo mundo publicando livro. Adoraria escrever um filme.

Silvia, que, aos 34 anos, negou a maternidade num artigo para a revista “TPM”, saca o celular e mostra fotos dos dois sobrinhos, filhos de seu único irmão, Daniel Pilz. E faz comentários ternos. Aliás, durante a entrevista, ela fala várias vezes sobre o irmão:

— Ele é o amor da minha vida.