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“Violência sexual ocorre de forma repetida na faculdade”, aponta relatório sobre Medicina da USP

Do G1:

O Fantástico revela as conclusões do relatório que apontou barbaridades que ocorrem na principal universidade do país.

A melhor faculdade de Medicina do país, referência em ensino e pesquisa, é alvo de denúncias. Abusos sexuais, violência recorrente contra calouros no trote, racismo. Tudo isso, segundo os acusadores, dentro de instalações da Universidade de São Paulo, a USP.

“Eles começaram a me beijar, a passar a mão nas minhas partes íntimas, nos meus seios, enfiaram a mão dentro na minha calça”, disse uma estudante.

“Não tenho memória mais do que aconteceu. Eu fui acordar no hospital em um atendimento do pronto-socorro”, contou outra estudante.

Esses depoimentos foram dados por estudantes em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, em 11 de novembro.

Ao Ministério Público, já chegaram denúncias de oito casos de abusos sexuais na Medicina da USP.

“É um processo muito desgastante. Elas ficam muito expostas”, disse Ana Luiza Cunha, do coletivo feminista Geni.

A promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar denúncias de atos de exclusão, violência física e moral dentro da faculdade de Medicina da USP. A promotora do caso, Paula de Figueiredo, relata que as vítimas procuraram a diretoria, fizeram denúncias, mas não encontraram apoio.

Na última terça-feira (18), a delegacia da mulher indiciou um homem acusado de estuprar uma aluna da faculdade durante uma festa no campus em 2011. Ele era funcionário terceirizado da USP e trabalhava durante o evento, organizado pelo Centro Acadêmico da faculdade.

Diante de tantas denúncias, a Congregação da Medicina, órgão máximo da faculdade, formou uma comissão de professores, funcionários e alunos para apurar os abusos e propor caminhos que acabem com os casos de estupro e intolerância dentro da faculdade.

A coordenação da comissão ficou sob responsabilidade do professor titular Paulo Saldiva, um pesquisador de renome internacional. No dia 11, ele pediu afastamento do cargo de professor titular do curso de Medicina por discordar de como a direção da faculdade conduzia o processo.

“A gente podia ter sido melhor, bem melhor. Faltou um pouco a gente abrir um espaço, abrir a porta da sala, para que um aluno venha e manifeste seus problemas”, disse Paulo Saldiva, ex-presidente da comissão.

“É uma decisão dele, pessoal. Ele sempre teve todo o apoio da direção da casa. Nós estamos preocupados com isso. Tanto que criamos a comissão, presidida por ele”, diz José Otávio Costa Auler Jr, diretor da Faculdade de Medicina.

Com a saída de Saldiva, o professor de clínica geral Milton de Arruda Martins assumiu a coordenação do grupo.

“Saber que uma aluna foi estuprada em uma festa e ela não se sentiu acolhida pela nossa instituição é uma coisa que chama a nossa responsabilidade, com certeza”, disse o professor Milton de Arruda Martins, presidente da comissão.

Após cinco meses, a comissão finalizou nesta semana um relatório sobre os casos de abusos. O documento avalia que “O retrato do que se passa no complexo da faculdade (…) não é nada abonador para instituição”.

“Dá para afirmar que existem sérios problemas nos cursos de Medicina”, destaca o professor Milton.

Logo no primeiro item, o grupo aponta: “A violência sexual ocorre de forma repetida na faculdade”.

Segundo denúncias feitas à comissão, “houve relatos de financiamento de atividades com prostitutas” nas festas e que “o abuso moral é prática constante” na faculdade.