Excesso de bikes provoca caos no paraíso dos ciclistas

Atualizado em 4 de novembro de 2014 às 12:42

Publicado na bbc.

Copenhague
Copenhague

Copenhague, na Dinamarca, é um dos melhores lugares do mundo para ciclistas, mas há um lado negativo – a carência de locais para estacionar as milhares de bicicletas da cidade.

A ausência desses locais provoca acúmulo de bikes nas ruas, que, por sua vez, atrapalha pedestres nas calçadas e bloqueia entradas de lojas e prédios. Além disso, a ausência de vagas é um problema para os próprios ciclistas, que demoram tanto para parar quanto para encontrar suas bicicletas em meio a tantas outras.

Mais da metade dos moradores da cidade se desloca diariamente de bicicleta e uma pesquisa recente aponta que, mesmo quando incluídas as pessoas que iniciam a jornada fora da cidade, 41% chegam ao local de trabalho ou estudo pedalando.

Há mais bicicletas em Copenhague do que pessoas, e elas são cinco vezes o número carros na cidade.

São 400 km de ciclovias não compartilhadas com carros ou pedestres para uma cidade de cerca de 600 mil pessoas. Neste ano, foi inaugurada uma ponte que cruza o porto, uma ciclovia de duas pistas que ajudou a tornar a cidade ainda mais atraente para ciclistas.

Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad anunciou, em junho, um plano para criar 400 km de ciclovias até 2015. Cerca de 90 km já foram entregues – a cidade tem aproximadamente 11,9 milhões de habitantes.

A propagação das bicicletas traz consigo vantagens óbvias, como um ar mais limpo e pessoas com melhor condicionamento físico.

Mas, fora das principais estações de trem, a confusão é tanta que um desavisado pensaria que houve um acidente. Pilhas de bicicletas agrupadas em torno de bicicletários parecem ter sido derrubadas por alguém fugindo da polícia.

Em outros lugares, as bicicletas são muitas vezes estacionados aleatoriamente na calçada, ocupando espaço de pedestres e bloqueando entradas de lojas e restaurantes. Para muitos não ciclistas, é uma fonte constante de irritação.

Niels Jarler, um não-ciclista de cerca de 30 anos, diz que muitas vezes tem que andar na rua para chegar a seu apartamento no centro de Copenhague no fim de semana, porque a calçada fica muito confusa.

“É realmente irritante. Os ciclistas em Copenhague sempre estacionaram onde queriam, mas isso virou um problema maior agora que a população está crescendo rapidamente”, diz ele.

“Os urbanistas realmente não pensaram muito sobre estacionamento de bicicletas em um nível local.”

Apesar da alta incidência de furtos – quase 18 mil bicicletas foram furtadas na cidade no ano passado – os proprietários raramente acorrentam suas bicicletas. Muitas vezes, elas estão apenas encostadas umas nas outras.

“Eu ando numa bicicleta velha e discreta, e nunca fui roubado”, diz o estudante Anton Pilmark.

Mas desenroscar a bike da “montanha” que se forma muitas vezes exige paciência.

Fora da estação de trem central de Copenhague, onde muita gente deixa a bicicleta no fim de semana, muitos ciclistas estão fartos da situação. “Simplesmente não há espaço suficiente”, diz Kirsten Hoeholt, que faz artesanato. “Não é só aqui que isso é um problema, é em toda a cidade. Precisamos de estacionamentos melhores.”

Enquanto 95% dos ciclistas na cidade estão satisfeitos com as condições de ciclistas em geral, apenas 29% estão satisfeitos com os estacionamentos – abaixo dos 40% que diziam se sentir assim em 1996.

De acordo com Mikael Colville-Andersen, do Copenhagenize Design Company, o estacionamento de bicicletas é o último grande desafio que as cidades que querem incentivar o ciclismo ainda precisam superar.

“Nenhuma cidade conseguiu”, diz ele. E acrescenta: “Mas outras cidades deveriam implorar por ter apenas esse desafio.”

Em São Paulo, por exemplo, uma pesquisa Datafolha realizada em setembro mostrou que apenas 3% dos paulistanos diziam usar a bike com frequência.

Em Londres, menos de 4% das pessoas pedalava a caminho da trabalho à época do censo de 2011 – o prefeito Boris Johnson prometeu no ano passado fazer as ruas de Londres “tão populares entre os ciclistas como as ruas de Copenhague ou Amsterdã”.

Um dos problemas de Copenhague é que a cidade tem crescido rapidamente. Cerca de 12 mil pessoas se mudam para a cidade a cada ano, enquanto apenas 7 mil novas vagas de estacionamento para bicicletas foram criados nos últimos oito anos.

“Muitos desses recém-chegados são ciclistas, e as autoridades da cidade simplesmente não acompanham”, diz o ex-vice-prefeito Klaus Bondam, ex-ator que agora lidera a federação de ciclistas dinamarqueses “.

“Precisamos de medidas mais drásticas para resolver isso. Na Holanda, eles têm estacionamentos de ponta com vários andares. Acho que é hora de introduzir isso aqui também.”

Na cidade holandesa de Groeningen, a estação ferroviária central tem estacionamento subterrâneo para 10 mil bicicletas, operado por um guarda dia e noite.

Em Utrecht, um novo estacionamento de bicicleta com mais de três andares tem capacidade para 4.300 bicicletas – mas em breve será superado por um outro, no leste da estação, com espaço para 12.500 bicicletas.

Então Copenhagen vai seguir o exemplo holandês?

“Nós tentamos roubar tantas boas ideias quanto podemos, e temos uma boa relação de trabalho com [urbanistas em] da Holanda”, diz Andreas Roehl, do conselho da cidade de Copenhague, sem se comprometer.

Uma ideia holandesa que deve ser aproveitada por Copenhague é a remoção de bicicletas estacionadas ilegalmente em áreas congestionadas.

A cidade introduziu, há alguns anos, as figuras dos “mordomos de bikes”; como uma forma que alguns bairros encontraram para agradecer aos que estacionam as bikes corretamente, esses “mordomos” cuidam de bicicletas que haviam sido derrubadas, enchem pneus furados e colocam óleo nas correntes de bicicletas.

Também há um plano para converter estacionamento de carros em áreas residenciais em estacionamentos de bicicletas.

Algumas mudanças estão a caminho. Mas, por enquanto, os ciclistas de Copenhague ainda terão que conviver diariamente com o caos das “montanhas” de bicicleta.