Exclusivo: Jean Wyllys explica a cuspararada em Bolsonaro. Por Leo Mendes

Atualizado em 18 de abril de 2016 às 22:20
"Me senti com a alma lavada": Jean Wyllys
“Me senti com a alma lavada”: Jean Wyllys

O deputado Jean Wyllys falou com exclusividade ao DCM sobre a polêmica em torno da cuspida na cara de Jair Bolsonaro. Abaixo a entrevista:

Acertou?

Sim, na cara. Talvez um pouco possa ter pego em alguém próximo dele. Mas a grande parte foi direto na cara do fascista.

Por que você acha que, de todo o horror a que assistimos ontem durante a votação do impeachment, foi o episódio da sua cuspida em Bolsonaro que repercutiu? E o que aconteceu de fato?

É realmente muito absurdo. Eu tenho vergonha de pertencer a um parlamento onde um deputado dedica o seu voto ao coronel Brilhante Ustra, um torturador que dirigiu um dos mais horrorosos campos de concentração da ditadura militar. Essa é que deveria ser a notícia, mas alguns veículos de comunicação preferem fazer matérias sensacionalistas e me desqualificar por ter reagido à violência desse sujeito.

Acho que, no fundo, há uma mistura de homofobia com busca de likes e uma certa falta de profissionalismo para apurar os fatos. O que aconteceu foi algo que tem se repetido muitas vezes ao longo dos últimos anos. Esse senhor costuma insultar os colegas no plenário e nas reuniões das comissões e em alguns casos até agredir fisicamente. Fez isso com a deputada Maria do Rosário, quando a empurrou na frente das câmeras de televisão e, tempo depois, quando falou no microfone, em uma reunião de uma comissão, que só não a estupraria porque ela “é feia”. Fez isso comigo inúmeras vezes, usando todo tipo de ofensas e palavrões para se referir a mim na frente de todos, inclusive com transmissão ao vivo dos xingamentos pela TV Câmara.

No ano passado, apresentei uma queixa-crime contra ele perante o STF e também na Corregedoria da Câmara, após ter sido insultado por ele numa reunião da Comissão de Relações Exteriores. Ontem foi a mesma coisa: eu fui reiteradamente insultado com todo tipo de ofensas e xingamentos homofóbicos e machistas por ele, que depois tentou me agredir. E eu reagi cuspindo nele, da mesma forma que ele cospe diariamente na democracia e na dignidade humana de milhares de pessoas com seu discurso de ódio e sua permanente incitação à violência. Eu reagi porque não vou me deixar intimidar por ele. Foi isso, ponto final. Todos os demais parlamentares que estavam presentes viram o que aconteceu.

Você está arrependido? Faria de novo?

Não me arrependo de nada. Estou de alma limpa, porque não é admissível que um deputado recorra à difamação e ao ataque à moral como método de trabalho, e não faltam provas de quanto sou vítima destes crimes por parte daquele a quem dirigi uma porção da minha saliva.

Quem estava ali por perto e ouviu a sequência interminável de impropérios ditos por ele — e que não são novidade para ninguém — com certeza compreendeu minha atitude como uma justa reação à agressão sofrida. Não é meu costume responder agressões desta forma, mas não me arrependo de forma alguma.

Quem sofre com os preconceitos e com as fobias dos fascistas, dia-a-dia, se sentiu também de alma lavada. Centenas de milhares de pessoas me parabenizaram e agradeceram pelas redes sociais e muitos me enviaram mensagens agradecendo o que fiz. Muita gente está cansada da violência e do ódio que esse senhor usa como método para intimidar, ameaçar e fazer escândalos, muitas vezes com o único objetivo de conseguir uma manchete.

Você teme algum processo no conselho de ética por parte dele?

Não acredito que alguém famoso pelo bordão “violência se combate com violência”, que já foi denunciado por um soco em um senador durante uma atividade parlamentar, condenado pelo Judiciário pela agressão à Maria do Rosário e que defende a violência aos estrangeiros refugiados do Senegal e do Haiti, tenha o direito de reclamar de uma cuspida, mas se quiser, pode fazer. Eu responderei através da minha representação legal.

Não tenho medo e, realmente, seria vergonhoso que o Conselho de Ética que até hoje não cassou o mandato do réu Eduardo Cunha tentasse me punir por reagir às agressões e ofensas de um fascista.

O que você sentiu quando cuspiu na cara dele?

Cara, foi uma reação espontânea. A resposta a uma raiva provocada. Uma espécie de gota d’agua. Esse fascista me insulta e me difama há seis anos quase. Há muitos registros de áudio e fotos desse fascistas me insultando, ofendendo e me humilhando nas sessões das comissões permanentes, audiências públicas e sessões plenárias.

Há dezenas de testemunhas – e prontas a testemunhar – sobre a violência psicológica que ele me impõe lá na Câmara desde que me tornei deputado. Esse fascista me difama de maneira orquestrada e em parceria com outros canalhas ligados a igrejas neopentecostais desde 2011. De lá pra cá, diariamente, eu sou torturado com calúnias, mentiras e outros materiais difamatórios que são postos em circulação por perfis claramente ligados a ele, a seus filhos e a seus gabinetes.

Há quase seis anos esse fascista usa dinheiro público para me difamar e difamar a comunidade LGBT. Ele tente me associar a uma prática horrível, que é o abuso sexual de crianças. Esse monstro não quer saber sobre o impacto desse calúnia na minha família; não quer saber como os vizinhos vão olhar para minha mãe é pra meus irmãos. Esse monstro quer me destruir.

Recebi e recebo muitas ameaças de morte por conta dessas calúnias espalhadas por ele e sua gente, sobretudo esses grupelhos fascistas tratados com respeito pela Folha de São Paulo. Então, depois de anos suportando toda essa violência e buscando os meios legais e institucionais para me proteger dela, sem que esses meios tomassem, até agora, providências efetivas, no domingo, naquele clima de tensão e polarização, os insultos dele foram como a gota d’água; então, numa reação espontânea, eu cuspi na cara dele – e me senti de alma limpa.

E para você ter um ideia de como ainda somos uma sociedade homofóbica que busca naturalizar as violências contra homossexuais, basta lembrar que, por infinitamente menos, Katia Abreu jogou um copo de vinho na cara de José Serra e Boechat mandou, em pleno ar, Malafaia ir chupar uma rola. Não condenei nem um nem outro, ao contrário: achei as reações legítimas e humanas. Cada um sabe onde o sapato lhe aperta o calo. Diante do que eu passei e passo por conta desse fascista e sua gente, até demorei de cuspir na cara dele.