Exclusivo: uma nova prova contra Feliciano no caso Patrícia. Por Nathali Macedo

Atualizado em 1 de outubro de 2016 às 15:28
Patrícia Lélis
Patrícia Lélis

A estudante de jornalismo Patrícia Lélis, que acusa Marco Feliciano de tentativa de estupro, tem sofrido todos os tipos de represálias por parte da equipe do deputado desde que resolveu denunciar a violência que sofrera.

A nova prova de que a estudante está sendo silenciada é um print em que o assessor Emerson Biazon a ameaça e diz que ela “merece ser estuprada até a morte”. O print foi descoberto pela polícia em perícia ao computador e celular de Patrícia Lélis.

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Eis exatamente o que acontece com mulheres que não se calam diante de algozes poderosos como Feliciano, que, com seu escudo de “homem de Deus e da família”, tem cometido verdadeiras atrocidades para tentar silenciar a vítima e poupar-se do escândalo de ser chamado daquilo que os fatos indicam que é: estuprador.

Assim como esteve nos prints apresentados na denúncia de Patrícia contra Feliciano, está agora claro que o pastor e seus comparsas já ameaçaram a vítima em outros momentos, a despeito do que diz a grande mídia, que parece empenhada em demonizar a imagem de Patrícia.

Ainda nos primeiros dias após a denúncia, Talma Bauer, Chefe de Gabinete de Feliciano, disse em depoimento à polícia, em São Paulo, ter dado R$ 20 mil a Emerson Biazon, que acompanhava a vítima em sua visita à capital paulista na primeira semana de agosto, para que entregasse à estudante em troca de seu silêncio.

A intenção de Bauer – nas palavras dele próprio – era “evitar o mal maior, o escândalo”. Como se ainda houvesse tempo para isso.

Bauer disse à polícia que a estudante pedira o dinheiro. Ela declarou que o Pastor Everaldo, ligado ao partido de Feliciano (PSC), foi quem lhe ofereceu a quantia.

A jovem declarou ainda ter sido mantida em cárcere privado por Bauer, que tentou comprar o seu silêncio. Fala-se em trezentos mil reais (um preço alto para comprar o silêncio de uma denunciadora caluniosa, não?)

“Evitar o escândalo” continuou sendo o objetivo principal da equipe de Feliciano. Nos meses seguintes à denúncia, a perseguição à vítima – à moda do machismo brasileiro – continuou a todo vapor.

Veículos de mídia duvidosos – é claro que nós estamos falando da Rede Globo – noticiaram que a vítima fora diagnosticada como mitomaníaca (mentirosa compulsiva) e portadora de Transtorno de Personalidade Histriônica (necessidade excessiva de chamar a atenção para si mesma.)

O delegado Luiz Roberto Hellmeister, responsável pela investigação, garantiu que a polícia tinha provas de que Patrícia não fora mantida em cárcere privado, e que, portanto, caluniara Bauer. Foi ele quem procurou a imprensa para apresentar um laudo contendo a informação de que Patrícia seria mitomaníaca e histriônica.

O blog Coluna da Esplanada, do UOL, entretanto, publicou outro laudo feito no ano passado pelo IML, que desmentia a versão apresentada pela Polícia Civil de São Paulo .

Isto não é nada diferente do que se faz com a maioria das vítimas de crimes sexuais no Brasil, só que em uma versão mais sofisticada, graças à eficiência de Feliciano e seus cúmplices: dizer que vítimas de estupro são mentirosas e querem chamar a atenção é um truque antigo, mas usar laudos (conseguidos sabe-se lá a que custo) para conferirem alguma legitimidade a esta acusação é coisa fina. Coisa que, no Brasil, só os poderosos da Bancada Evangélica conseguem.

Até o ex-namorado de Patrícia foi contatado para acusá-la. Está claro, desde o início deste escândalo, que Feliciano e seus cúmplices estão fazendo todo o possível para fragilizar a palavra da vítima e o que é pior: culpabilizá-la.

Atingiram êxito em seu intento: Lélis foi indiciada por denunciação caluniosa e extorsão, e já se fala em pedido de prisão preventiva para a vítima.

Hellmeister, responsável pelo indiciamento de Patrícia, é bom lembrar, foi afastado do caso por ter manipulado informações e provas. Seu histórico, aliás, fala por ele: acusado de agredir uma jornalista, o delegado, com toda a imparcialidade típica do Judiciário brasileiro, é filiado ao PSDB.

Eis a declaração de Patrícia sobre o episódio:

“Quando cheguei na delegacia de SP minha oitiva já estava pronta. O delegado me perguntou por que eu não filmei as agressões e afirmou diversas vezes que eu estava mentindo. Me chamou de vagabunda, mentirosa, um perigo para a sociedade. Disse que eu era pior que Suzane Von Richthofen. Na hora ele me deu duas opções: ou eu assinava um termo dizendo que era tudo mentira ou ele me encaminharia para um hospício. Meus advogados me aconselharam a assinar a indiciação para que o caso fosse para o Ministério Público, já que o delegado não tem poder para investigar um deputado.”

Os dispositivos eletrônicos da estudante (computador e celular) permanecem sob perícia, e as provas contra Feliciano continuarão a serem levadas a público em primeira mão pelo Diário do Centro do Mundo.

Evitar o mal maior, o escândalo, é tudo o que a sórdida equipe de Feliciano não conseguirá (ao menos no que depender de nós.)