Fake news sobre fake news: para colunista da Folha, verdade absoluta é patrimônio de quem o emprega. Por Donato

Atualizado em 20 de janeiro de 2018 às 9:07
A falsa ficha criminal de Dilma publicada pela Folha

“A regra é simples: na dúvida sobre a veracidade de algo noticiado, verifique se apareceu na imprensa profissional”, escreveu Demétrio Magnoli em sua coluna de hoje na Folha de S.Paulo, ao tratar sobre fake news.

Muito bem, vamos tomar o seguinte exemplo: na semana passada, este Diário do Centro do Mundo noticiou que os metroviários fariam uma greve de 24 horas no último dia 18, quinta-feira.

Na hipótese de que algum leitor tenha desconfiado do DCM – este blog sujo e sem credibilidade – e tenha ido procurar na mídia ‘profissional’ (o que ele quis dizer com isso?), terá acreditado que não haveria greve alguma (e também que a CCR não iria vencer o leilão, provavelmente).

Com a greve em andamento, a tal ‘mídia profissional’ passou o dia 18 noticiando que as pessoas tinham sido pegas de surpresa. Por que será, não?

“A velha imprensa (‘golpista’ no inevitável adjetivo repetido pelo PT), com seus parâmetros de contextualização e suas regras de apuração, é um dos pilares da democracia representativa”, escreveu ainda Demétrio Magnoli, do alto de algum púlpito que considera celestial, absoluto e imaculado.

Contextualização? Democracia?

Vamos a mais um exemplo rápido então de postura da tal mídia a que se refere o jornalista: a Globo dos dias de hoje trata as Diretas Já dos anos 1980 como se naquele período ela houvesse noticiado e apoiado intensamente a campanha.

Mentira pura. Escondeu o que se passava nas ruas até o último minuto. Só quando a coisa ficou gigantesca e indomável é que ela foi cobrir o ato da Praça de Sé.

Para ficarmos com a mesma empresa do exemplo acima, mas saltando para os dias atuais: um dos memes de maior sucesso nas redes sociais na última semana foi um que pedia ‘Diga que supermercado é esse que o Jornal Nacional falou que os preços baixaram que vou lá fazer compras’.

Se hoje vivemos uma época que andam denominando como ‘pós verdade’, é porque muitos (como Demétrio Magnoli) julguem que, anteriormente a este período, tenha existido um da ‘verdade’. Uma verdade inquestionável e dominada pela mídia profissional. Nunca houve, nunca foi.

Enquanto oligopólio, jornais e TVs sempre elegeram e derrubaram os candidatos que bem entenderam. Ainda fazem isso, mas não sem consequências. Arrancaram Dilma Rousseff do Planalto, mas acabaram vendo muitos de seus aliados irem parar na forca também.

“Em caso de dúvida”, sugere Magnoli. Ora, o problema reside exatamente aí. A massa ignara não duvida de uma Globo, de um telejornal qualquer. E contra isso não basta ficar correndo atrás de mecanismos que barrem fake news porque elas sempre existiram e sempre existirão.

Só uma grande revolução na educação do país é que pode tornar o cidadão mais capaz de ‘duvidar’, mais competente em ligar os pontos.

Quando se fica sabendo que no último exame do Enem apenas 53 estudantes alcançaram a nota máxima em redação enquanto 309.157 tiraram zero (um a cada vinte), começa-se a entender melhor onde está a raiz da árvore podre. Tudo, absolutamente tudo passa pela educação (ou falta dela).