Faz sentido falar em eleições para outubro? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 2 de maio de 2016 às 10:00

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Vai-se falar como nunca, nos próximos dias, de eleições.

Não é a saída ideal, evidentemente, quando se leva em consideração que 54 milhões de votos deram um mandato até 2018 para Dilma.

Mas talvez seja a solução possível. Ou menos ruim, dadas as circunstâncias.

O julgamento de Dilma no Congresso é uma farsa. A oposição vai votar a favor do impeachment a despeito dos fatos. Não importa se ficar constatado que não existiu crime de responsabilidade. Como na Câmara, os votos já estão definidos no Senado.

O golpe está dado.

Acontece que nasce morto um governo que tenha como segundo homem Eduardo Cunha, o caso mais espetacular de corrupção que o Brasil conheceu na história republicana, um psicopata conhecido e desprezado por toda a sociedade como um ladrão.

Acima de Cunha, o septuagenário Temer é uma completa nulidade. Não tem carisma, não tem grandeza de nenhuma ordem – e não tem votos.

Numa hora especialmente dramática para o país, a chapa Temer e Cunha só poderia tornar ainda pior a situação.

A esperança de que o STF pudesse jogar luzes sobre as sombras se desfez espetacularmente com a omissão notável dos eminentes juízes em relação a Cunha.

Desde dezembro jaz no STF um pedido do Ministério Público de afastamento de Cunha. Nos últimos dias, com o país em chamas, os juízes preferiram legislar sobre pipoca no cinema a julgar Cunha.

Tudo isso posto, é como se o país estivesse agora numa rua sem saída. Num de seus grandes filmes, A Mulher do Lado, Truffaut cunhou uma frase antológica para definir um amor impossível: “Nem com você, nem sem você.”

Trazida a sentença para o Brasil destes dias, você pode dizer: “Nem com Dilma, nem sem Dilma.”

A plutocracia, com sua campanha infame contra Dilma pela mídia, parece tê-la efetivamente inviabilizado. Mas não encontrou nada decente para o dia seguinte.

O pretexto – cínico, oportunista, sujo –para minar Dilma foi o combate à corrupção, um tema sempre caro à classe média. Em 1964, os golpistas usaram a mesma arma contra Jango.

Mas agora há uma diferença brutal sobre 1964. Quem assumiu o poder então foram os militares, tidos como incorruptíveis. A classe média selvagemente manipulada pelos jornais de então viu então uma chance de acabar com a “corrupção dos civis”.

Desta vez, é a figura de Eduardo Cunha que emerge. Tantas fases da Lava Jato, tanta barulheira da mídia, tantas manifestações de analfabetos políticos contra a corrupção, tantos panelaços – tudo isso para dar em Eduardo Cunha e no partido mais associado a negociatas pelo poder, o PMDB?

A conta não fecha nem para aqueles que se vestiram de camisa da CBF e foram várias vezes para a avenida Paulista em nome de um país “livre da corrupção”.

Remover Cunha agora, depois de deixá-lo com total liberdade para fazer o que fez, já não resolve nada. Ficará ainda mais claro para a sociedade – incluídos aí os midiotas – que Cunha foi usado, e que o “combate à corrupção” era uma mentira.

Num mundo menos imperfeito, eleições presidenciais seriam realizadas em 2018 apenas.

Mas o Brasil da plutocracia predadora é o que é, e então eleições ainda em 2016 podem ser a alternativa menos ruim para um quadro péssimo.