Felipe Melo é a mais perfeita tradução do Brasil do golpe. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 3 de maio de 2017 às 19:35

https://www.youtube.com/watch?v=6AGqIVBB3RE

Felipe Melo não é a cara do futebol brasileiro, que vive um bom momento com Tite — mas é a do Brasil do golpe.

Se já tivemos Sócrates como um atleta que transcendia as quatro linhas do gramado, hoje temos um volante violento, descontrolado, falastrão e, coroando esses atributos, fã de Jair Bolsonaro.

Melo publicou um vídeo na internet no 1º de maio. Gritava: “Deus abençoe a todos os trabalhadores e pau nos vagabundos! Bolsonaro neles!”

Diante da repercussão ensaiou um recuo: “Quando eu falo de vagabundos, me refiro às pessoas que querem tumultuar o nosso país. Deus abençoe a todos vocês. E, sim, eu sou Bolsonaro.”

Os dois são feitos um para o outro. Evangélicos, pouco inteligentes, profissionais do ódio, confundem truculência  com coragem.

Chico Buarque falava do tempo da delicadeza. Eles são o negativo. São o que se apresenta para o momento. Felipe Melo é a Lava Jato de chuteiras, é o atropelo da democracia, a vitória da selvageria.

Em 2005, foi acusado de esfaquear dois jovens em um hotel no Rio de Janeiro. O primo assumiu a culpa. Mas ele se diz regenerado e “um homem de Deus”.

Na apresentação do jogo do Palmeiras contra o Peñarol, provocou os adversários com uma bravata idiota.

“Se tiver que dar porrada e tapa na cara de uruguaio, vou dar. Pode ter certeza que, se vier mano a mano, vou dar porrada para defender as cores do Palmeiras”, falou, para alegria da galera.

A profecia auto realizável terminou em confusão. Alegou que um jogador o chamou de macaco. Não fez BO. Preferiu uma sacada genial: “A mulher dele já deve ter traído ele com um negão”.

A falta de noção de Felipe Melo o impede de ver que ele não se enquadra nos padrões arianos de seu ídolo.

Melo, que é negro, não vê problema em apoiar um sujeito que narrou sua visita a um quilombo — a qual, aliás, ninguém sabe se ocorreu de fato — em termos francamente racistas.

“O afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”, contou Jair em sua famosa palestra na Hebraica do Rio.

Ele poderia ser mais um jogador folclórico, como tantos que existem, existiram e existirão.

Mas Felipe Melo é mais do que isso. Ele incorpora um estado de espírito e um momento nacional e vocaliza uma imbecilidade infelizmente generalizada.

A melhor imagem de Melo é essa que está abaixo. De quatro. Como boa parte do país.