Fernando Morais ao DCM: “Só um idiota pode crer que os golpistas vão entregar a presidência a Lula em 2018”. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de setembro de 2016 às 18:00

 

O jornalista e escritor Fernando Morais é um dos entrevistados da semana no programa do DCM na TVT (o outro é Eduardo Suplicy).

Morais conversou com Marcelo Godoy e eu em seu escritório em Higienópolis, onde guarda prêmios e toda espécie de suvenires reunidos em mais de 40 anos de carreira (há um esqueleto vestido uma camiseta escrito “Fora Temer” atrás da porta).

Para o autor de “Olga”, como seria uma biografia de Dilma?

“Já existe um livro muito legal sobre ela escrito pelo Ricardo Amaral [“A Vida Quer é Coragem”]. Mas agora existem duas Dilmas: ela sofreu uma metamorfose nesse processo de golpe de estado. Renasceu aquela Dilma dos anos 60, aquela que peitava milico, ia para o pau de arara”, diz.

“Renasceu uma leoa. É espantosa a coragem com que ela enfrentou essa corja da política do Senado. Entrou para a historia pela porta da frente. Foi um discurso impressionante de 14 horas. Tinha um monte de gente pedindo para ela dar uma maneirada, na esperança de ainda ganhar algum recalcitrante ali. Não teve papo, ela falou ‘golpe é golpe’  de dedo no focinho de cada um deles”.

Morais teve alguns entreveros públicos nos últimos meses. Um deles, o mais barulhento, foi com o senador Cristovam Buarque, o indeciso mais falso da África subsaariana.

No Facebook, Morais avisou que ia devolver uma placa de prata que ganhou do então ministro da Cultura de Lula. “De golpista não quero nada”, escreveu na ocasião. Cristovam o chamou de “obtuso” e o acusou de ter o caráter corrompido pelo PT.

“Estão dizendo, mas não acredito, que Cristovam havia se comprometido a votar no impeachment para ganhar uma vaga na Unesco como embaixador do Brasil”, diz Morais.

Quem lhe causou estranhamento, mesmo, foi Aloysio Nunes, do PSDB, líder do governo no Senado. “Ele foi uma surpresa. Nós fomos deputados juntos por 8 anos no MDB. Ele guiava o carro do Marighella [na ditadura], fazia ação armada, tem a história do trem do banco que ele descarrilhou e que transportava dinheiro do Rio para São Paulo…” lembra.

“Aloysio era um sujeito com história, bem humorado, espirituoso. De uma hora para outra se transformou em um cara que dá medo nas pessoas, sem falar que ideologicamente se transformou em um horror”.

O famoso livro sobre Lula está, no momento, de stand by. Cobrirá o período entre sua prisão em São Bernardo em 1980 e a eleição para presidente em 2002. “Lula nem precisa ser preso hoje. Basta ser inabilitado para 2018. Esse indiciamento vai cair na mão do Moro. Vamos supor que ele seja condenado a dois anos. Ele vai recorrer e, se o juiz reduzir a pena por ser primário e ter bons antecedentes, ter mais de 70 anos, vai colocar uma tornozeleira no Lula e está resolvido: não pode mais ser candidato a presidente.”

Segundo Morais, o ciclo do golpe se completa não com a queda de Dilma, mas com a inviabilização da candidatura do ex-chefe. “Só um idiota completo pode imaginar que Globo, FIESP, extrema direita, Folha, Estado, Editora Abril, Ministério Publico, Policia Federal vão fazer o que fizeram para entregar a presidência da República de bandeja pro Lula de novo”, afirma. “Não faz sentido”.

“Eu já disse: vou dedicar o que resta de energia na minha vida a denunciar esse golpe e carimbar e estigmatizar todo mundo que foi sócio, parceiro, cúmplice. Eles vão ter que carregar essa tatuagem pro resto da existência. Os bisnetos vão dizer que o bisavô deu um golpe de estado no Brasil”.

Abaixo, alguns trechos da entrevista.