Fracasso da Operação Zelotes revela que a Procuradoria não incomoda os poderosos. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 28 de dezembro de 2017 às 14:10

O procurador da república Frederico Paiva disse em entrevista publicada hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo que não entende as razões pelas quais a Procuradoria-Geral da República não deu apoio à Operação Zelotes, na gestão de Rodrigo Janot.

“Quando nós requisitamos dois peritos para a Procuradoria-Geral da República para poder viabilizar a análise dos dados bancários que foram quebrados, este pedido foi negado. Sob a alegação de falta de peritos, disseram que não haveria como ajudar a Zelotes.”

A operação, desencadeada em março de 2015, revelou um bilionário esquema de sonegação praticado por grandes empresas, legitimado por decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).

O primeiros cálculos indicavam que o esquema provocaria um rombo de quase 20 bilhões de reais, dinheiro que deixaria de entrar aos cofres públicos por conta da sonegação.

“Não consigo entender os critérios. A Zelotes envolvia o Carf, um órgão com importância fundamental na economia brasileira, lá são julgados cerca de R$ 500 bilhões em créditos tributários, e a gente veio mostrando resultados, oferecendo denúncias, conseguimos condenação, mas outras operações tiveram muito mais apoio. Eu não entendo os critérios da PGR”, disse o procurador.

Na mesma época, Rodrigo Janot turbinava a Lava Jato e se envolvia pessoalmente nas investigações conduzidas a partir da força-tarefa de Curitiba, inclusive com uma visita ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, para discutir corrupção na Petrobras.

A Lava Jato levou à ruína o sistema político, com a deposição de uma presidente legitimamente eleita. Já a Zelotes, como revela agora o procurador, foi desidratada, com a colaboração que a Polícia Federal deu logo depois do impeachment.

“A Polícia Federal tirou o delegado Marlon Cajado, delegado muito atuante na investigação em parceria com o MPF. Ele foi tirado da Zelotes em maio do ano passado, isso nos deixou a pé. Tivemos que lidar com um volume imenso e, infelizmente, não conseguimos analisar tudo. Isso foi um baque”, afirmou.

Lava Jato e Zelotes são duas faces da mesma moeda, num país que sempre foi injusto e retrocedeu com o golpe. 

A cada dia, fica mais claro que a Lava Jato é um movimento político travestido de investigação criminal. Tirou um partido do poder e tenta interditar sua principal liderança, destruiu as empresas de engenharia  e enfraqueceu a Petrobras, empresa estratégica para o desenvolvimento do País.

Os protagonistas da Lava Jato gostam de dizer que, com a operação, pela primeira vez na história poderosos foram para a cadeia. Seus seguidores, que vestiram camisa da CBF para protestar contra a corrupção, acreditam — ou fingem acreditar.

O fato é que a Lava Jato nunca ameaçou o poder real. Seu núcleo estava longe de Curitiba. É na Zelotes que se encontram as raízes da desigualdade brasileira — rico não paga imposto no Brasil.

Por isso, essa operação nasceu morta. Basta olhar para as empresas envolvidas nos processos suspeitos em tramitação no Carf para constatar o que já estava na cara: a Zelotes não ia dar em nada.

Segue a lista, apenas para registro histórico, já que são empresas blindadas:

Banco Santander – R$ 3,34 bilhões

Banco Santander 2 – R$ 3,34 bilhões

Bradesco – R$ 2,75 bilhões

Ford – R$ 1,78 bilhões

Gerdau – R$ 1,22 bilhões

Boston Negócios – R$ 841,26 milhões

Safra – R$ 767,56 milhões

Huawei – R$ 733,18 milhões

RBS – R$ 671,52 milhões

Camargo Correa – R$ 668,77 milhões

MMC-Mitsubishi – R$ 505,33 milhões

Carlos Alberto Mansur – R$ 436,84 milhões

Copesul – R$ 405,69 milhões

Liderprime – R$ 280,43 milhões

Avipal/Granoleo – R$ 272,28 milhões

Marcopolo – R$ 261,19 milhões

Banco Brascan – R$ 220,8 milhões

Pandurata – R$ 162,71 milhões

Coimex/MMC – R$ 131,45 milhões

Via Dragados – R$ 126,53 milhões

Cimento Penha – R$ 109,16 milhões

Newton Cardoso – R$ 106,93 milhões

Bank Boston banco múltiplo – R$ 106,51 milhões

Café Irmãos Júlio – R$ 67,99 milhões

Copersucar – R$ 62,1 milhões

Petrobras – R$ 53,21 milhões

JG Rodrigues – R$ 49,41 milhões

Evora – R$ 48,46 milhões

Boston Comercial e Participações – R$ 43,61 milhões

Boston Admin. e Empreendimentos – R$ 37,46 milhões

Firist – R$ 31,11 milhões

Vicinvest – R$ 22,41 milhões

James Marcos de Oliveira – R$ 16,58 milhões

Mário Augusto Frering – R$ 13,55 milhões

Embraer – R$ 12,07 milhões

Dispet – R$ 10,94 milhões

Partido Progressista – R$ 10,74 milhões

Viação Vale do Ribeira – R$ 10,63 milhões

Nardini Agroindustrial – R$ 9,64 milhões

Eldorado – R$ 9,36 milhões

Carmona – R$ 9,13 milhões

CF Prestadora de Serviços – R$ 9,09 milhões

Via Concessões – R$ 3,72 milhões

Leão e Leão – R$ 3,69 milhões

Copersucar 2 – R$ 2,63 milhões

Construtora Celi – R$ 2,35 milhões

Nicea Canário da Silva – R$ 1,89 milhão

Mundial – Zivi Cutelaria – Hércules – Eberle – Não Disponível

Banco UBS Pactual SA N/D

Bradesco Saúde N/D

BRF N/D

BRF Eleva N/D

Caenge N/D

Cerces N/D

Cervejaria Petrópolis N/D

CMT Engenharia N/D

Dama Participações N/D

Dascan N/D

Frigo  N/D

Hidroservice N/D

Holdenn N/D

Irmãos Júlio N/D

Kanebo Silk N/D

Light N/D

Mineração Rio Novo N/D

Nacional Gás butano N/D

Nova Empreendimentos N/D

Ometo N/D

Refrescos Bandeirantes N/D

Sudestefarma/Comprofar N/D

TIM N/D

Tov N/D

Urubupungá N/D

WEG N/D

Total – R$ 19,77 bilhões