“Fui exposto por causa de um erro de digitação”, diz beneficiado do Bolsa Família que virou manchete por uma falsa doação milionária. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 22 de outubro de 2016 às 7:24
A doação milionária à candidata Geni
A doação milionária à candidata Geni

 

O Bolsa Família foi um dos alvos preferenciais da imprensa durante as eleições municipais de 2016. Manchetes alegavam que as doações dos beneficiados pelo programa tinham sinais de fraudes eleitorais.

O ministro do STF Gilmar Mendes afirmou à Globo que laranjas estavam sendo utilizados após o bloqueio de doações privadas para os candidatos a vereador e a prefeito nas cidades brasileiras.

Santa Cruz da Baixa Verde é um município no interior de Pernambuco com 12 mil habitantes a 450 quilômetros de Recife, dentro do sertão nordestino. Fundado no final do século 19, é conhecido como a “capital da rapadura” pela forte produção histórica de cana-de-açúcar.

A cidade foi notícia nacional por conta de uma candidata derrotada nas eleições. A agricultora Maria Geni do Nascimento, do PDT, teria recebido R$ 75.000.844,36 milhões de um beneficiado pelo Bolsa Família chamado Pedro Henrique da Silva Rodrigues.

O valor, no entanto, era mentira.

O correto era R$ 750. A informação errada veio da inclusão de números zeros adicionais feita por um funcionário do TSE. Até que a verdade viesse à tona, UOL, Veja e todos os grandes veículos de imprensa noticiaram o caso como se fosse um verdadeiro escândalo.

Geni não foi eleita vereadora. A mídia depois fez uma errata discreta. O DCM conseguiu entrar em contato com Pedro em Santa Cruz da Baixa Verde.

O jovem universitário queixou-se da irresponsabilidade dos jornalistas no caso, que divulgaram o seu CPF e sua faculdade, além de outros dados privados. Ele diz que recebe o Bolsa Família desde o primeiro mandato de Lula e que a candidata Geni é amiga de sua mãe e sua vizinha.

DCM: Pedro, quem é você e onde você estuda? Qual é a sua idade?

Pedro: Eu não gostaria de divulgar minhas informações detalhadas e nem o local onde estudo. E vou te explicar o motivo.

DCM: Qual é a razão? E como aconteceu a doação que você fez à candidata Maria Geni do Nascimento, do PDT?

Pedro: Fiz uma doação para a candidata de R$ 750, não sei se o senhor ficou sabendo. E o valor saiu com erro de digitação.

DCM: Na verdade o jornal O Globo divulgou que foram R$ 75. Foi R$ 750, na realidade? 

Pedro: Sim. Eles só descobriram isso quando foram contabilizar as doações e notaram o erro de digitação, com números a mais.

DCM: Como você se sentiu?

Pedro: Me senti e ainda estou exposto desnecessariamente pelas notícias que falam sobre o caso. Vários sites e veículos da imprensa divulgaram meu nome completo, CPF, a universidade onde eu estudo e o curso, entendeu?

Tudo foi colocado de forma pública sem o meu consentimento e as pessoas não foram sequer me consultar, ouvir o outro lado.  Tudo isso gerou um constrangimento que ainda dura.

DCM: Como você fez a doação para a candidata Geni? Você a conhece?

Pedro: Conheço ela sim. É minha vizinha e amiga da família, do meu convívio pessoal.

DCM: O erro no cadastro da sua doação para a candidata Geni foi feito de má-fé ou foi apenas um acidente?

Pedro: Foi um erro de digitação e eu conheço o funcionário que registrou errado a informação. Ele assumiu o que fez para mim e para as pessoas que estavam comigo. O erro foi dele. A gente foi até a Promotoria para prestar esclarecimentos. Está tudo certo. Fui dar meu depoimento nessa semana mesmo.

DCM: E como foi o Bolsa Família para a sua vida? O programa te ajudou?

Pedro: Sou um dos beneficiados pelo programa, mas quem tem o cartão não sou eu e sim minha mãe. Está no nome dela e eu estou no cadastro. As pessoas da minha família estão registradas, mas é uma pessoa só que recebeu o cartão titular.

O Bolsa Família ajuda todo mundo aqui até hoje. A gente recebe desde 2002, quando não tinha esse nome [era o Bolsa Escola na época], há 14 anos.

DCM: Ao receber o benefício, você deixou de estudar?

Pedro: Estudei tudo, só que, quando terminei o Ensino Médio, eu não entrei de cara na faculdade. Fiquei uns dois anos até entrar. Me sinto exposto na internet com esse erro divulgado.