Fundador do MBL fez ensaio nu do vereador Fernando Holiday para explorar “o fato dele ser negão”. Por Donato

Atualizado em 25 de dezembro de 2017 às 18:59
A campanha com Holiday: “Tem a piada implícita do fato dele ser negão”

O nu tem dois lados para Fernando Holiday e seus asseclas de MBL. Quando quem está nu são terceiros, é indecência, pouca-vergonha, safadeza. Quando a nudez é própria, é sinal de ‘pureza’, ‘transparência’.

Durante o período de campanha para vereador, o movimento de Renan Santos, Kim Kataguiri e Fernando da Silva Bispo (vulgo Holiday), preparou um anúncio no Estadão com o candidato nu em pelo, ilustrando os números de sua campanha.

O montante não era vultuoso. Entre serviços de gráfica, logística, apoio jurídico e o próprio anúncio elaborado, totalizaria R$ 36,9 mil, sob o título ‘A velha política que me desculpe, mas transparência é fundamental’.

A ‘brincadeira’, segundo Renan e Holiday debateram durante toda a fase de criação, é que a peça ensejaria muitas piadas (inclusive racistas), e isso seria benéfico.

“É do caralho, tem a piada implícita do fato dele ser negão”, disse na época Renan em áudio obtido com exclusividade pelo DCM (ouça abaixo). Ele admite ter copiado a ideia do partido Cidadanos espanhol, que fez esse tipo de material.

Algo na linha ‘fale bem ou fale mal, mas fale’. Em resumo, o nu, que tudo vende, seria um artifício legítimo para a campanha eleitoral. Numa exposição em museu é apologia à pedofilia. Numa palestra de Judith Butler, é ideologia de gênero. O nu dos outros é pornografia, o do MBL é puro.

O cartaz, além do mais, é mentiroso. Holiday foi deixado nu por seu ex-advogado de campanha Cleber Santos Teixeira, que denunciou que a arrecadação chegou a R$ 59 164,14 e menos da metade disso foi declarado.

Afirma ainda que Fernando Holiday usou parte desse dinheiro para pagar contas pessoais, como a mensalidade da faculdade.

A campanha de Holiday, segundo Teixeira, foi repleta de irregularidades, como simular a doação de uma ‘eleitora’ que estaria arcando com os pagamentos dos cabos eleitorais (Tatiane Carvalho não era uma ‘voluntária’ e sim uma assessora de campanha) ou ainda a utilização de veículo ‘emprestado’ por mais um simpatizante da cruzada moralista (a cessão de veículo, mesmo por empréstimo, precisa constar na prestação de contas dos candidatos, com um valor estimado que passa a ser considerado ‘doação’).

O advogado hoje se diz ameaçado de morte pelo MBL e entrou com uma ação para provar o que tem afirmado publicamente.

Apelando sempre para a moral e os bons costumes da família tradicional, o MBL (ou melhor, MRL, o nome da “associação privada”, como consta no site da Receita Federal, para onde vão os recursos do grupo) utilizou-se dos argumentos costumeiros para tentar impedir que os verdadeiros donos do CNPJ do Movimento Brasil Livre fizessem uso da marca.

Na petição encaminhada ao Judiciário, afirmam que ‘sempre zelaram pela integridade, ética e moral em todos os atos realizados em nome da marca MBL’ e desqualificam Alexandre Frota (um dos sócios):

‘Possui reputação e conduta diametralmente oposta aos valores defendidos pelo MBL’; ‘assumidamente usuário de entorpecentes’; ‘se porta de forma socialmente reprovável, expondo negativamente inclusive suas parceiras de cenas em filmes pornô’; ‘Frota afirmou que sua ex-mulher seria similar a um travesti” (sobre Claudia Raia).

Alexandre Frota venceu a disputa e um juiz derrubou a liminar que o impedia de usar a marca MBL. Já o MRL de Santos, Kataguiri e Holiday continua não explicando o que o Bonde do Rolê pode que os outros não podem.