Caso FIFA: ex-diretor da Globo delatado “acertou” com vereadores de SP para não mexer na grade de programação

Atualizado em 14 de novembro de 2017 às 22:08
Galvão Bueno

Este texto está sendo republicado à luz da acusação do empresário Alejandro Burzaco, um dos principais delatores do caso Fifa, de que a Globo pagou propina por direitos de transmissão de competições ligadas à Conmebol. A negociação teria sido feita por Marcelo Campos Pinto, então diretor da parte esportiva da Globo.

O principal locutor da Globo, Galvão Bueno, disse que a denúncia criminal apresentada pelo Ministério Público Federal contra o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, abre oportunidade para fazer uma limpeza no esporte brasileiro.

“E hora de passar o esporte a limpo”, afirmou Galvão Bueno, segundo reportagem do UOL.

Galvão lembrou que José Maria Marin, ex-presidente da CBF, está preso nos Estados Unidos, o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, não pode sair do Brasil porque corre o risco de ir para a cadeia, assim como o também ex-presidente Ricardo Teixeira, que se encontra na mesma situação.

Só não falou de J. Havilla, dono das afiliadas da Globo no interior de São Paulo e da empresa de licenciamento esportivo Traffic, que cumpre prisão domiciliar nos Estados Unidos, acusado de lavar dinheiro da corrupção nas negociações por direito de transmissão.

Por que ele não fala de Traffic nem de J. Havilla?

Porque Traffic e J. Havilla estão no mesmo pacote da Globo. Nenhuma iniciativa de fazer uma limpeza no esporte brasileiro, necessária, faria sentido se não se investigasse também a Globo.

A Globo é citada em investigação sobre pagamento de propina a uma intermediária da Fifa, e comprou os direitos de transmissão da Copa do Mundo em 2002, sem pagar impostos no Brasil.

Negociou nos bastidores com os vereadores de São Paulo quando a Câmara Municipal ameaçou, em 2012, estabelecer um horário para o término dos jogos de futebol em São Paulo, para impedir que os torcedores ficassem sem transporte coletivo.

Se a lei fosse aprovada, a Globo teria que mexer em sua grade de programação, para transmitir jogos de São Paulo, ou deixar de transmiti-los, o que jamais faria, tendo em vista o tamanho do mercado paulistano.

O vereador Antonio Goulart, hoje deputado federal, e o cantor Agnaldo Timóteo, na época vereador, autores da proposta, foram “acertados” pela rede de tv, segundo relata um vereador da época.

A negociação teve à frente Marcelo Campos Pinto, então responsável pelo departamento de esportes da Globo.

Na parte da negociação que é facilmente comprovada, os dois tiveram generosos espaços na programação da emissora. Outro vereadores também foram contemplados, só que com tempos menores na programação.

A Globo quer fazer do esporte o que fez da política.

Lambuzou-se até onde conseguiu e agora se coloca como virgem no bordel.

Sai de fininho para denunciar a imoralidade dos antigos comparsas.

Nenhuma limpeza do esporte — nem da política — faz sentido sem investigar a fundo a Globo e seus controladores, os irmãos Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho.

Haverá algum procurador com disposição para enfrentar esses poderosos adversários do esporte brasileiro?

Não, porque uma investigação dessas não teria os holofotes da velha mídia.