Game of Thrones é sexista? Por Luísa Gadelha

Atualizado em 29 de março de 2016 às 8:16
Irritada com acusações: Emilia Clarke
Irritada com acusações: Emilia Clarke

A atriz Emilia Clarke, que interpreta a rainha Daenerys Targaryen na série Game of Thrones, declarou recentemente em entrevista à revista Entertainment Weekly que odeia quando as pessoas pensam que Game of Thrones é sexista. “Há muita controvérsia. Inclusive é o que é bonito em Game of Thrones – sua representação de mulheres em diferentes estágios de desenvolvimento. Existem mulheres retratadas como objetos sexuais, mulheres que não têm direitos, mulheres que são rainhas mas para apenas um homem, e há também mulheres que são literalmente implacáveis e tão poderosas quanto você pode imaginar”.

Ora, é inegável o apelo erótico presente na série desde a primeira temporada: cenas de nudez, sexo heterossexual, homossexual, prostitutas, estupros e orgias – a série é bastante criticada pelas cenas cruas e, por vezes, desnecessárias – como o polêmico estupro de Sansa Stark, cena que não ocorre no livro, e que foi repreendido por grupos feministas.

Mas as críticas mais árduas se dirigem ao papel praticado pelas mulheres na série: algumas são meras reprodutoras, moedas de troca para firmar alianças entre famílias e gerar descendentes.

Contudo, não podemos ignorar o universo em que se passa a história: embora fantástico, com seres míticos como dragões e os caminhantes brancos, Game of Thrones é claramente baseado na nossa Idade Média, em que certas regras de conduta são seguidas à risca, como a sucessão masculina, o não reconhecimento de filhos gerados fora do casamento, títulos de nobreza e vassalagem.

Seria no mínimo anacrônico termos mulheres subvertendo esse sistema sem dificuldade alguma, mas esse fato não faz de Game of Thrones uma série – ou As Crônicas de Gelo e Fogo, para falar dos livros – machista.

Muito pelo contrário: as personagens femininas de Game of Thrones usam quaisquer tipos de armas que tenham à mão, desde o corpo à força física, passando pela astúcia e influências políticas, para ascender, e tornarem-se vitoriosas na guerra dos tronos.

Sem cair numa ótica maniqueísta, observamos mulheres de personalidade forte e de grande ousadia entre as “mocinhas” e as “vilãs”: desde a odiada rainha Cersei Lannister, que manipula marido e familiares para governar por trás dos filhos à rainha Daenerys, que conquistou os povos do Oriente com base em políticas de libertação de escravos. Há Brienne, a mulher-guerreira, de força descomunal, e há Ygritte, dos povos livres, sem leis nem rei, que também guerreia e é dona do próprio corpo. As irmãs Stark, Arya e Sansa, tão diferentes em suas forças: Arya, atrevida desde criança, passando por caminhos desconhecidos, e Sansa, aparentemente frágil e medrosa, que nutre um ódio secreto pela família Lannister. Há a sacerdotisa Melisandre que usa do poder religioso para subjugar os vassalos do rei Stannis. As Serpentes de Areia, filhas bastardas do príncipe Oberyn, sempre unidas contra o inimigo em comum.

A lista de exemplos é extensa, incluindo mulheres de todos os tipos de personalidade e atitudes, que não se fecham à passividade e submissão – ainda que essa seja a impressão passada por algumas personagens, o que seria limitá-las. Para finalizar, Emilia Clarke afirma: “Me dói ouvir pessoas descontextualizando Game of Thrones sob um viés antifeminista – porque você não pode dizer isso sobre essa série. Ela expõe a extensão do que acontece às mulheres e ultimamente tem mostrado que as mulheres são não apenas iguais [aos homens], mas têm bastante força”.

A próxima temporada de Game of Thrones, a sexta, estreia na HBO no dia 24 de abril.