Gazeta do Povo, do Paraná, cria site para delatar professores que fazem “doutrinação ideológica”. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de dezembro de 2017 às 16:20
A “plataforma” macartista da Gazeta

A Gazeta do Povo, o maior jornal do Paraná, resolveu inovar.

Não no jornalismo, mas com delação de “inimigos”, numa reinvenção do macartismo na pátria da Lava Jato.

Foi lançado um tal “Monitor da Doutrinação”, abrigado no site, para receber “denúncias”. Tudo em prol do cidadão de bem.

“Com ou sem lei da Escola Sem Partido, o professor tem direitos e deveres que devem ser respeitados em nome da boa formação dos alunos. Entre esses deveres, estão o de dedicar-se ao conteúdo que foi contratado para ministrar. Não cabe aos docentes arregimentar alunos para uma facção política ou ideológica. Mas isso vem acontecendo com alguma frequência no Brasil”, diz a apresentação.

Embora haja discordâncias quanto à extensão do problema, é inegável que ele existe. Por isso, a Gazeta do Povo criou uma plataforma que recebe e reúne casos de doutrinação ideológica em escolas e faculdades do Brasil”.

O sujeito entra lá e, em alguns cliques, entrega quem quiser à execração pública. Se um fundamentalista resolver fazer justiça com as próprias mãos e eliminar o comunista pela raiz, são outros quinhentos.

Alguém vai se responsabilizar? A resposta é óbvia.

Faz sentido essa iniciativa fascista num momento em que universidades estão sendo invadidas pela Polícia Federal fantasiada de marine e reitores estão sendo alvos de condução coercitiva?

A Gazeta encerrou sua edição impressa em abril. Estava vendendo menos de 40 mil exemplares por dia, segundo o Instituto Verificador de Circulação, IVC. Na internet, abriga refugos como Leandro Narloch e Rodrigo Constantino.

Em 1962, foi comprada por Francisco Cunha Pereira Filho, morto em 2009, e Edmundo Lemanski. Faz parte do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM), dona de afiliada da Globo e de rádios.

Guilherme Doring Cunha Pereira

O herdeiro Guilherme Döring Cunha Pereira é o presidente executivo. Alto, magro, fala mansa, bochechas rosadas como as de seu conterrâneo Deltan Dallagnol, Guilherme é também sócio do Centro de Extensão Universitária, em São Paulo.

Os cursos para jornalistas têm palestras de medalhões como Elio Gaspari e o imortal colunista do Estadão Carlos Alberto di Franco, que ninguém lê desde 1845. Di Franco é um dos diretores.

A empresa é ligada à Universidade de Navarra, fundada pelo padre Josemaría Escrivá de Balaguer, o criador da Opus Dei canonizado em 2002. Di Franco e Guilherme são membros da prelazia católica — chamados de “numerários”.

Ultraconservadora, totalitária e conspiradora, a Opus Dei força alguns de seus membros a usar apetrechos como macacão antimasturbação. Não se sabe se Guilherme fornecerá esse mimo aos esquerdopatas que vai dedurar.