Governo nega 2 reais ao trabalhador e vai gastar 10 bi para cooptar deputados: é um escândalo e ninguém reage. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 10 de janeiro de 2018 às 11:39
Chefe de um governo infame

A pesquisa do IBGE que mede o custo de vida (INPC) constatou que no ano passado as coisas ficaram mais caras do que o reajuste do salário mínimo decretado pelo governo federal — 2,07% contra 1,81%.

Em outras palavras, o mínimo perdeu poder de compra.

Ao decretar o reajuste, o governo não tinha ainda o índice de inflação, divulgado hoje, mas já sinalizava que sabia da sua insignificância.

Para o governo,  o reajuste minúsculo era necessário para economia de 3,4 bilhões de reais ao longo do ano.

Na prática, se o índice de inflação fosse usado para a correção do mínimo, o trabalhador teria 2 reais a mais no fim do mês.

É quase nada e, ao mesmo tempo, é um corte escandaloso.

Escandaloso quando se verifica que o governo que nega uma nota de dois reais ao trabalhador é o mesmo que autoriza o ministro da articulação política a liberar 10 bilhões para obras.

E não são obras estratégicas para o crescimento do país.

São obras em redutos de deputados que votarem a favor da reforma da Previdência.

Na linguagem da política, obras de campanha.

O governo vai gastar três vezes mais para cooptar deputados que aceitarem participar de outro golpe contra a população – endurecer as regras da aposentadoria.

Não bastou o teto dos gastos públicos — que representa menos dinheiro para saúde e educação.

Também não foi suficiente a reforma trabalhista — que não gerou novos empregos, mas abriu uma janela para mais lucros aos grandes empresários.

O governo moverá mundos e fundos — principalmente fundos — para alterar as regras de aposentadoria.

O discurso será o do terror — ou se aprova a reforma, ou o Brasil acaba —, o mesmo que vem sendo usado desde meados de 2016.

A jornalista canadense Naomi Klein tem um estudo interessante que descreve como essa estratégia tem sido usada para aprovar reformas de caráter neoliberal, cujo efeito mais conhecido é a concentração de renda.

Ela chama de A Doutrina do Choque.

O golpe de Pinochet no Chile, o massacre da Praça de Tiananmen, o Colapso da União Soviética, o 11 de setembro de 2001, a guerra contra o Iraque,  o tsunami asiático e o furacão Katrina foram eventos usados para promover as mesmas reformas que agora atingem em cheio o Brasil.

No país, a crise foi maximizada até nos encontrarmos em um estado parecido com o de guerra civil, sem armas e sem sangue, mas com o mesmo ódio latente.

Perguntaram a Naomi klein se as grandes potências tinham errado a mão no Oriente Médio, com a crise do Iraque, e provocado estragos não previstos.

Ele disse que não, pois o objetivo era esse mesmo: gerar pavor, para que ficasse gravado na memória da população, e assim implantar medidas impopulares sem grandes resistências.

Será que ninguém percebe que o Brasil está sob ataque?

Do impeachment à condenação de Lula, da Lava Jato ao acordo de indenização bilionária a ser paga pela Petrobras nos Estados Unidos.

Da desmoralização das grandes empresas de engenharia brasileiras à operação da polícia contra a indústria da carne.

Da privatização dos ativos públicos à negociação para a venda da Embraer ou o aluguel da Base de Alcântara.

São eventos interligados.

Obedecem à mesma matriz.

É a ação do Robin Hood ao contrário.

Tira do pobre para dar ao rico.

E, para isso, trata o brasileiro com choque.

Choque e pavor.

No futuro, quando olharmos para 2016, 2017 e talvez 2018, diremos que estes foram os anos da infâmia.