Nem toda arte tem que ser engajada, e nem todo engajamento tem que ser artístico.
O patrulhamento que alguns artistas engajados fazem, como se só isso validasse uma obra, é das coisas mais chatas já criadas desde a berinjela. Mas a verdade é que quando motivação artística e social se juntam, você tem obras não melhores, mas com função dupla – de emocionar artisticamente e de propor questionamento.
E então Moema, bairro de São Paulo famoso por ter ruas com nomes de índios, amanheceu hoje com uma instalação. A Alameda dos Tupiniquins se tornou a Alameda dos “Tupiniquins Sob Ameaça”.
Perguntei à atriz Nina Dutra, minha amiga moradora do bairro que mandou a foto, se havia mais placas com a intervenção. “Que eu tenha visto, só essa”.
E aqui uma digressão: já imaginou se todas as ruas do bairro amanhecessem com uma faixa dessa? “Avenida Iracema Sob Ameaça”; “Rua Jurandir Sob Ameaça”. Qual o impacto que isso poderia causar?
Bem, voltando à questão inicial, a arte de rua tem essa característica mesmo. Nasceu, afinal, nos guetos de Nova Iorque com propósitos de liberdade de expressão. Foi trazido ao Brasil com o mesmo objetivo.
Daí a característica, que se pode observar ainda hoje em grande parte dos casos.
Agora, o mais interessante é se essa instalação não tiver nenhuma intenção artística. Toda essa discussão e o cara só queria se manifestar a favor dos índios. Tipo Homer Simpsons quando virou artista por acidente.
Isso não diminuiria o resultado artístico final da obra, afinal a mensagem, segundo a teoria de José Marques de Melo, está em quem recebe, e não em quem transmite.