Gregório Duvivier não pode criticar a elite por ser da elite? Por Nathalí Macedo

Atualizado em 17 de outubro de 2015 às 6:03
Ele combate o bom combate
Ele combate o bom combate

Gregório Duvivier nasceu em berço de ouro e nunca negou isso. Já li vários excelentes textos seus em que se remete à sua vida confortável como homem branco, heterossexual e socialmente abastado, e isso nunca fez a menor diferença para mim como leitora.

A despeito disto, noutro dia, em um fórum da internet, alguém comentou algo do tipo: “Um branco da elite falando sobre desigualdade social. Nunca sentiu na pele! Não confio nesse cara.”

Juro que tentei entender. Achei que essa reação pudesse ser análoga à ideia de que brancos não devem tomar o protagonismo do movimento negro, ou homens do movimento feminista, ou héteros do movimento LGBT. E não devem mesmo. As minorias precisam falar por si para reconhecerem-se e serem reconhecidas em sua própria luta.

Acontece que não vejo um protagonismo – ou mesmo uma tentativa – no discurso de Duvivier. Vejo alguém proveniente da elite e que se recusa a ser elitista. E há algum problema nisso? Acho, pelo contrário, admirável.

Enquanto existir a elite – e arrisco que existirá por muito tempo – prefiro que ela esteja do nosso lado. Do lado das minorias, da igualdade, da coerência. Prefiro que Duvivier use a inteligência e habilidade lingüística que adquiriu, provavelmente, nos melhores e mais caros colégios, para espalhar pela internet reflexões úteis, em vez de se calar e calar o próprio poder de influência porque branco heterossexual não pode ser de esquerda.

Penso que a lógica da liberdade de expressão é justamente esta: não importa de onde você veio, mas o que você planta. Então, se Duvivier espalha boas sementes, não me interessa se ele veio do subúrbio ou da elite carioca.

E se em algum momento deixar de promover discursos igualitários, as minorias estarão lá, com seus representantes atentos, para dizer que discursos elitistas/machistas/homofóbicos não passarão. Logo, esta não precisa necessariamente ser uma preocupação.

O mundo que queremos é aquele onde brancos, negros, pobres, ricos, instruídos e não-instruídos compreendam o seu lugar nas lutas alheias – um lugar de apoiadores não-protagonistas, ressalte-se – exatamente como Gregório tem feito. E que se tornem apoiadores e reprodutores da igualdade, mesmo que jantem num restaurante no Leblon. E que bom seria se cada pessoa reconhecesse os próprios privilégios e os utilizasse em favor dos não-privilegiados, se cada pessoa soubesse que o sistema está aí e não há nada que possamos fazer além de tentar utilizá-lo ao nosso favor tanto quanto for possível.

Gregório Duviver, seus textos me abraçam. Não pare nunca.