Huck foi vaiado porque é um dos símbolos do golpe. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 8 de agosto de 2016 às 17:18

Huck

Quem foi vaiado neste domingo no Rio não foi Luciano Huck, mas sim o mundo que ele representa.

Mais diretamente: quem foi vaiado foi o Brasil de Temer.

Huck é um dos símbolos do movimento golpista. É amigo de Aécio e, se não bastasse, um dos rostos abomináveis da Globo.

A Globo é tão rejeitada, hoje, quanto Temer. Então você pode dizer que a Globo também foi vaiada em Huck.

Huck provavelmente pensou que fosse ser aplaudido quando sua presença foi anunciada numa disputa. Mas é por falta de noção, e por viver num mundo de fantasia, preservado do contato com a parcela mais politizada da sociedade, aquelas pessoas que não se deixam manipular pelo Jornal Nacional, pela CBN e por aí vamos.

Mas repito: o alvo dos apupos foi Temer.

Temer, caso fique até 2018, vai ter que correr do povo como se fosse um Forrest Gump.

Já não há nada capaz de evitar o fim desastroso de sua gestão. Ele era um mero desconhecido até o golpe. Tornou-se, pelas circunstâncias, um rosto familiar.

Quando isso acontece, ou as pessoas se apaixonam pelo recém-chegado ou desenvolvem uma imediata repugnância.

Não preciso dizer em que categoria Temer se enquadra.

Ele não tem votos, não tem história, não tem carisma, não tem sequer ficha limpa. Neste momento, muitos brasileiros devem estar se perguntando, por exemplo, que destino ele deu aos 10 milhões cash que a Odebrecht, segundo seu dono, lhe deu numa campanha.

A pergunta óbvia feita por muitos é esta: quanto ele guardou para si mesmo? Oscar Wilde escreveu que resistia a tudo, exceto à tentação. É tentador ver uma mala gigante de cédulas e passá-las adiante, uma a uma.

O Brasil de Temer é repulsivo. É uma criação espúria da plutocracia para roubar direitos sociais. É detestado internamente, como mostram pesquisas mesmo que maquiadas como o último Datafolha, e desprezado externamente.

As vaias a Luciano Huck, ainda que merecidíssimas, foram na verdade destinadas a Temer, Serra, Cunha, Aécio, Jucá, Renan, FHC, Globo, Veja, Folha — todos aqueles e tudo aquilo que simbolizam o golpe.