Huck não apareceu na TV cumprindo as exigências do MPF para suspender processo criminal. Entenda. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 20 de julho de 2020 às 11:45
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A disputa que os milionários travam com a comunidade pela privatização do mar na região de Angra dos Reis e Paraty e pela apropriação de outros bens da natureza terá mais um capítulo encerrado nos próximos dias.

Encontra-se na mesa do juiz da Vara Federal de Angra dos Reis o processo que foi movido contra o apresentador da TV Globo Luciano Huck por crime ambiental.

O processo registra que, para não ser condenado à prisão, Huck aceitou se submeter às exigências do Ministério Público Federal: doou R$ 150 mil para o projeto coral-sol, do Instituto Chico Mendes (Estação Ecológica de Tamoios), e participou de três reuniões do projeto, em que foram discutidas as formas de aplicação do dinheiro pago por ele.

A suspensão condicional do processo foi o mesmo expediente utilizado pelo ex-secretário geral do PT, Sílvio Pereira, para não ser condenado no mensalão.

Sílvio Pereira percorria ruas da região do Butantã, em São Paulo, para depois reportar ao subprefeito do bairro as demandas de serviços e obras.

Sílvio cumpriu a exigência com intensa cobertura da imprensa. Já Luciano Huck cumpriu as condições de suspensão do seu processo sem que houvesse um único registro da mídia.

Com receio de danos à imagem do apresentador, os advogados de Luciano Huck tentaram tornar o processo sigiloso, mas não conseguiram. O fato de ser celebridade não é, em tese, condição para manter processo em segredo.

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Desde outubro de 2014, Luciano Huck teve três reuniões com ambientalistas para discutir como combater o coral-sol, uma espécie exótica que tem causado graves danos à natureza.

O coral-sol é conhecido como espécie assassina por atacar os corais nativos. Uma das formas de combate é feita por voluntários, em mutirões, que localizam o coral-sol e o retiram da água.

Não se sabe como o coral-sol veio para o Brasil. Acredita-se que tenha sido trazida, acidentalmente, por petroleiros atracados na Baía da Ilha Grande.

Não deixa de ser irônico.

Luciano Huck tem uma mansão na Ilha das Palmeiras, na mesma baía, e sua iniciativa de fechar o mar, com a simulação de que criava espécies marinhas, também foi considerada nociva a outras espécies que usufruem da natureza –- no caso, a humana, que era impedida de se aproximar do seu imóvel e de se banhar nas águas da ilha.

As exceções eram a família de Luciano Huck e seus convidados.

O juiz Ian Legay Vermelho, a quem caberá dar a sentença, não terá alternativa a não ser considerar extinta a punibilidade de Luciano Huck, já que as exigências foram cumpridas.

O juiz, naturalmente, não dirá isso na sentença, mas a real expectativa dos ambientalistas que denunciaram Huck  é que ele tenha aprendido a lição com o combate ao coral-sol: é preciso enfrentar as espécies exóticas para manter a natureza no seu ciclo de vida regular.

Desmatando, construindo além do permitido e fechando o acesso a praias, milionários de Angra dos Reis e Paraty passaram dos limites.

Muitos ainda estão impunes, como os donos do triplex atribuído à família de Roberto Marinho, e a empresa de Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, o amigo do ministro Teori Zavascki, que fizeram a mesma coisa – e até pior – do que Luciano Huck.

Estas são espécies de coral-sol muito mais difíceis de combater.