Ideia de um jornal italiano para os daqui: economizar com extremistas como Fiúza e dar “Mein Kampf” de brinde. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 12 de junho de 2016 às 12:43
O brinde do irmão de Berlusconi
O brinde do irmão de Berlusconi: economizando Fiúza

 

O italiano Il Giornale, cujo proprietário é Paolo Berlusconi, irmão de Silvio, está no centro de uma iniciativa que deve ser, em breve, imitada por aqui.

A edição de sábado contou com a distribuição gratuita de uma cópia anotada de “Mein Kampf”, de Hitler. O primeiro ministro, Matteo Renzi, se manifestou no Twitter: “Considero sórdido que um diário italiano presenteie o ‘Mein Kampf’. Meu abraço afetuoso na comunidade judaica”.

A alegação do jornal é que isso serve para conhecer o passado para poder rejeitá-lo, blábláblá — quando o que se sabe é que tudo gira em torno de uma estratégia de marketing para tentar vender mais.

Mais sete livros serão dados numa série sobre o Terceiro Reich. Hitler escreveu “Minha Luta” quando esteve detido nos anos 20. Foi lançado oito anos antes de ele subiu ao poder. É autobiográfico, mas contém as bases do nazismo. Está tudo lá.

Alguns criticaram o momento oportunista usado pelo Giornale, em que a xenofobia e a extrema direita crescem na Europa. “Você estão economizando com jornalistas direitistas”, escreveu um sujeito no Twitter.

Faz um certo sentido. No Brasil, a história deve se repetir.

Com a crise na imprensa, o Estadão, por exemplo, economizaria em editorialistas xingando adversários de “tigrada” e “matilha” — expediente clássico dos nazistas, a desumanização do inimigo — encartando o difamador original.

Quem precisa do pensamento único de um Guilherme Fiúza, com seu fanatismo macartista, a lentidão lexotan de raciocínio, mandando correspondentes estrangeiros para a Venezuela, acusando o New York Times de ser vendido, se pode ter Hitler deblaterando contra os estrangeiros usurpadores da pátria?

Durante 70 anos, a Baviera foi dona dos direitos autorais e proibiu a publicação da obra por respeito às vítimas e para evitar o incitamento ao ódio. Cópias circulavam na internet. No dia 1º de janeiro de 2016, “Minha Luta” caiu no domínio público. Agora é tudo legal, com comentários de historiadores.

A polêmica está garantida, mas, com o constrangimento que causa, gente como Fiúza sai muito, muito mais caro.