Janot enterra sua reputação num risca-faca, mas mostra como opera, de fato, a Justiça brasileira. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de setembro de 2017 às 17:08
Janot e o advogado de Joesley se encontram casualmente

A foto do procurador Rodrigo Janot no canto de um risca-faca, de óculos escuros, conversando com o advogado de Joesley Batista, Pierpaolo Bottini, não é só a pá de cal em sua reputação.

Representa o real funcionamento da Justiça brasileira.

Por trás das togas, das coletivas, dos maneirismos, do rigor, das cortes, do juiz duro, da “luta contra a corrupção”, do moralismo, do terror dos procuradores, as coisas se decidem ali, no pé sujo, atrás dos engradados de cerveja.

A verdade está lá fora — da agenda.

Esse caldo alimenta, depois, a imprensa, com jornalistas bem pagos para transformar em escândalo o que foi decidido no botequim. Tem que ter uma porção de lula.

O papo aconteceu um dia depois de a Procuradoria Geral da República pedir a prisão do dono da JBS e do diretor Ricardo Saud.

Estaria Janot se explicando?

Segundo Bottini relatou à Folha, o colóquio aconteceu do nada. “Na minha última ida a Brasília este fim de semana, cruzei casualmente com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, num local público e frequentado da capital”, declarou.

Não trataram de “qualquer questão afeita a temas jurídicos”. O tête a tête “foi uma demonstração de que as diferenças no campo judicial não devem extrapolar para a ausência de cordialidade no plano das relações pessoais”.

Maravilha.

Bem, se tudo foi tão natural, falta explicar por que o PGR usava Ray Ban em um ambiente fechado e a mesa era escondida. 

Janot pode contar que sofre de fotofobia e é fã de Anna Wintour, editora da Vogue, e os dois apreciam o cheiro de banheiro nos fundos de mosca-morta.

Ele também pode alegar que era um karaokê e que estava tocando “A Volta do Boêmio”, com Nelson Gonçalves, quando a emoção o dominou.

Whatever.

Nenhum filme da Lava Jato, por pior que seja, é capaz de superar a realidade.