O vídeo sobre a reunião entre José Celso Martinez e Sílvio Santos revela mais do que duas visões opostas de cidade.
Mostra que João Doria não é o líder de que a cidade precisa para administrar conflitos — em essência, a urbe é um centro de conflitos.
A reunião termina sem solução e Doria, personagem secundário no vídeo, mostra que não é mais do que um um profissional que conhece técnicas de marketing – no caso, para vender.
Ao falar de asset e mall, ele parece um corretor, com o uso de palavras e expressões que os interlocutores desconhecem, mas que podem impressionar quem ouve.
Pode funcionar com quer comprar um apartamento ou decorar a casa, mas não tem sentido quando envolve pessoas que enxergam nas coisas muito mais do que o valor que elas aparentam.
Sílvio Santos não precisa mais de dinheiro e nem é o dinheiro especificamente que o move naquela conversa.
É uma visão de que precisa realizar e acredita que só o dinheiro pode transformar as coisas. E que tudo e todos têm algum preço.
Já José Celso Martinez se move por idéias.
O concreto desumaniza e é preciso utilizar os espaços a partir do princípio de que o homem em sua essência deve ser alvo de todas as ações.
A região, na visão dele, é um reserva cultural.
Ao ver o vídeo, impossível não ver paralelo com o filme Aquarius, de Kléber Mendonça Filho.
A ameaça que Sílvio Santos faz, a de mandar a Cracolândia para lá, é uma mensagem que lembra a investida da construtora.
Na fita, não funciona com a jornalista que não quer vender o apartamento onde viveu a vida toda.
Não vai funcionar com José Celso Martinez.
É nessa hora que a liderança de um prefeito se faz necessária, mas não para servir como um corretor de Sílvio Santos.
Para apontar as alternativas que contemplem dois lados irreconciliáveis, dois homens que dividem o mesmo espaço, mas vivem como se fossem de planetas diferentes.
A solução vai além daquele terreno, que, do jeito que está, sem uso, efetivamente causa danos à cidade.
É nessa hora que o detentor do mandato mostra para que serve o poder público.
É esta a finalidade da política.
A solução do terreno da Bela Vista passa, com certeza, pelo preço daqueles metros quadrados, mas vai muito além disso.
São Paulo tem uma ótima oportunidade para debater o que quer fazer de seu espaço.
Mas faltam líderes para organizar a discussão e apontar caminhos.