José Celso Martinez e Sílvio Santos estão no papel deles, o que falta é um prefeito. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 30 de outubro de 2017 às 8:39

O vídeo sobre a reunião entre José Celso Martinez e Sílvio Santos revela mais do que duas visões opostas de cidade.

Mostra que João Doria não é o líder de que a cidade precisa para administrar conflitos — em essência, a urbe é um centro de conflitos.

A reunião termina sem solução e Doria, personagem secundário no vídeo, mostra que não é mais do que um um profissional que conhece técnicas de marketing – no caso, para vender.

Ao falar de asset e mall, ele parece um corretor, com o uso de palavras e expressões que os interlocutores desconhecem, mas que podem impressionar quem ouve.

Pode funcionar com quer comprar um apartamento ou decorar a casa, mas não tem sentido quando envolve pessoas que enxergam nas coisas muito mais do que o valor que elas aparentam.

Sílvio Santos não precisa mais de dinheiro e nem é o dinheiro especificamente que o move naquela conversa.

É uma visão de que precisa realizar e acredita que só o dinheiro pode transformar as coisas. E que tudo e todos têm algum preço.

Já José Celso Martinez se move por idéias.

O concreto desumaniza e é preciso utilizar os espaços a partir do princípio de que o homem em sua essência deve ser alvo de todas as ações.

A região, na visão dele, é um reserva cultural.

Ao ver o vídeo, impossível não ver paralelo com o filme Aquarius, de Kléber Mendonça Filho.

A ameaça que Sílvio Santos faz, a de mandar a Cracolândia para lá, é uma mensagem que lembra a investida da construtora.

Na fita, não funciona com a jornalista que não quer vender o apartamento onde viveu a vida toda.

Não vai funcionar com José Celso Martinez.

É nessa hora que a liderança de um prefeito se faz necessária, mas não para servir como um corretor de Sílvio Santos.

Para apontar as alternativas que contemplem dois lados irreconciliáveis, dois homens que dividem o mesmo espaço, mas vivem como se fossem de planetas diferentes.

A solução vai além daquele terreno, que, do jeito que está, sem uso, efetivamente causa danos à cidade.

É nessa hora que o detentor do mandato mostra para que serve o poder público.

É esta a finalidade da política.

A solução do terreno da Bela Vista passa, com certeza, pelo preço daqueles metros quadrados, mas vai muito além disso.

São Paulo tem uma ótima oportunidade para debater o que quer fazer de seu espaço.

Mas faltam líderes para organizar a discussão e apontar caminhos.