Juíza que proibiu show de Caetano no ABC foi afastada por suspeita de trabalhar para o PCC

Atualizado em 30 de outubro de 2017 às 21:44
A juíza Ida Inês del Cid

A juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo do Campo, atendeu ao pedido do Ministério Público para impedir a realização de um show de Caetano Veloso na ocupação do MTST no Bairro Planalto.

A apresentação estava marcada para as 19h desta segunda, dia 30.

Ela estabeleceu uma multa de R$ 500 mil se o evento ocorresse. “Fica deferida ordem policial, caso necessário”, escreveu em sua decisão.

A juíza afirma, num despacho com algo de deboche, que o “brilhantismo” do cantor “atrairá muitas pessoas para o local, o que certamente colocaria em risco estas mesmas, porque, como ressaltado, não há estrutura para shows, ainda mais, de artista tão querido pelo público, por interpretar canções lindíssimas, com voz inigualável”.

Ida Inês foi afastada em 2007, acusada de favorecer o PCC. A Folha deu matéria sobre o assunto:

Suspeita de favorecer pessoas apontadas como integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), a juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara de Mauá (ABC), foi afastada do cargo ontem. Trata-se da primeira medida contra uma autoridade do Judiciário paulista por possível ligação com o grupo criminoso.

O afastamento foi determinado porque a juíza foi flagrada em conversas telefônicas com Sidnei Garcia, vice-presidente da Associação Comercial da cidade e acusado de compor um grupo de 18 pessoas que usariam, segundo o Ministério Público, 22 postos de combustível para lavar dinheiro para o PCC.

Conforme a Folha informou dia 11, o empresário Douglas Martins do Prado, 38, fez, em dezembro de 2006, uma série de denúncias à Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo sobre a conduta da magistrada e de Maria Eugênia Pires, também juíza do fórum de Mauá.

Durante seis meses, Prado não foi interrogado pela Corregedoria. Ele, que pediu o afastamento da juíza “por conduta em desacordo com o cargo”, foi terça-feira ao TJ e insistiu para ser ouvido.

Dois dias depois, a saída de Ida Inês foi anunciada. Na sessão, com decisão unânime, desembargadores do órgão especial se disseram “preocupados com a atuação do PCC”.

O TJ também anunciou, na mesma notificação publicada no “Diário Oficial”, o desmembramento do processo das duas juízas. No caso de Ida Inês, que ficará fora das funções até o fim das investigações, foi decretado segredo de Justiça.

A ordem judicial: “brilhantismo” de Caetano

Na notificação, os nomes das juízas aparecem somente com as iniciais.

O suposto envolvimento das duas juízas com pessoas apontadas como integrantes do PCC começou a ser investigado quando o empresário Prado comprou, no fim de 2005, uma casa de R$ 600 mil de Gildásio Siqueira Santos, também acusado de colaborar com a facção criminosa.

Após a conclusão do negócio, Santos entrou na Justiça e alegou não ter recebido integralmente o valor do imóvel. Prado, por sua vez, afirma ter feito, a pedido de Santos, parte dos pagamentos em contas de terceiros indicados por ele.

Coube a magistrada Maria Eugênia Pires julgar a causa. Ela deu ganho a Santos, que conseguiu ficar com o imóvel. Prado alega que a juíza não apreciou as comprovações de que quitou o imóvel.

Revoltado com o que classifica como golpe, Prado investigou Santos e descobriu a rede de postos. As informações dele acabaram na polícia e vários telefones foram grampeados.
Nos grampos para rastrear Santos, a polícia flagrou conversas de Sidnei Garcia com Ida Inês.

Grampos

Garcia tratava Ida Inês como “My Love” e ela devolvia: “palhaço”, “trouxa” e “amore”. Em outra gravação, a juíza diz a Garcia: “Ei…Eu podia estar matando, roubando, me prostituindo. Estou me arrumando”.

Embora atuasse em Mauá, a juíza concedeu, num plantão que fazia em Santo André, liberdade a um homem preso em flagrante por porte ilegal de arma. O acusado seria segurança na loja de carros de Garcia.