“Julgamento de Lula serviu para acabar com as ilusões. A luta é na rua”, diz Lindbergh Farias ao DCM

Atualizado em 25 de janeiro de 2018 às 8:55
Lindbergh em ato em SP após a condenação de Lula no TRF 4

Após o resultado do TRF 4 na tarde de quarta, dia 24, os ânimos estavam exaltados na Praça da República. A caminhada até a avenida Paulista havia sido proibida pelo prefeito.

Mas ninguém estava disposto a dar ouvidos ou conceder obediência. O comandante da polícia militar postou um cordão de soldados na avenida Ipiranga para impedir a marcha.

Na mesma avenida onde, um dia antes, o mesmo comandante havia impedido uma manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público – agindo com truculência e detenções de adolescentes – Guilherme Boulos não negociou: “Nós vamos passar”, e logo as cerca de 30 mil pessoas puseram-se a andar.

Imediatamente o cordão da PM se desfez, manso. Na rua da Consolação, o senador Lindbergh Farias, que fez um dos discursos mais contundentes ao lado de Lula, falou ao DCM.

DCM: O 3X0 era inesperado?

Lindbergh: Não. Sinceramente, não tenho ilusão nessa justiça. Estava precificado, eles agem de forma corporativa, estão a serviço da elite do país, estão se achando os grandes protagonistas.

Precificado?

Os golpes que a burguesia fazia neste país utilizava os militares, mas agora em toda a América Latina estão utilizando o sistema Judiciário.

Uma mudança no modo de operar.

Lógico. E estão gostando desse protagonismo. Então para mim não foi surpresa, acho que isso tem que servir para acabar com ilusões.

Nós não vamos derrotar esse golpe com liminar na justiça, só vamos derrotar se formos para as ruas. É luta direta, temos que preparar uma nova esquerda. Houve a ruptura do pacto da redemocratização da Constituição Federal de 1988.

De que modo?

Qual é a base desse pacto? As forças políticas disputavam o poder através de regras com eleições livres e democráticas. Mas rasgaram os 54 milhões de votos da Dilma e agora querem transformar a eleição num jogo de cartas marcadas. E aí? Nós temos que mudar a forma de atuar.

Teme que possa haver outro golpe disfarçado de impeachment caso Lula vença?

Acho que não, porque não vamos dar mole. Temos que aprender com a história. O que sei é que para derrubar este golpe a gente não pode ter a visão institucionalizada que tínhamos.

A gente tem que ir para as ruas, tem que radicalizar. É um outro momento da história. Acho, sinceramente, que não podemos falar mais de democracia no Brasil.

Seu discurso não está muito ‘radical’?

Mas esse é o sentimento nosso. Se não for com o povo nas ruas, a gente não derrota esse golpe. Vamos deixar de ilusão! Não é o Congresso Nacional nem essa Justiça, é povo na rua.