Katia Abreu, quem diria, foi mais fiel a uma presidente eleita do que Marta Suplicy. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de maio de 2016 às 11:41
Katia Abreu
Katia Abreu

 

Quem poderia esperar que a ministra Katia Abreu, do PMDB, daria uma lição de democracia em Marta Suplicy? Mais do que democracia, caráter.

Em sua cavalgada movida a ressentimento, Marta tem encontrado obstáculos com seu novo eleitorado. Depois de xingada de “ladra”, “petralha” e “filha da puta” na Avenida Paulista, na manifestação de 13 de março, quando buscou refúgio na Fiesp, ela tomou uma vaia no evento da Força Sindical, de seu novo aliado Paulinho.

Foi no Campo de Bagatelle, em São Paulo, no 1º de maio. Os apupos começaram logo que ela foi anunciada e continuaram durante seu breve discurso, provavelmente abreviado por causa da recepção.

A uma plateia de trabalhadores que não sabe o que vem por aí, defendeu o eventual governo Temer com platitudes do tipo “o país tem jeito”, “há uma luz no fim do túnel” e “daqui a 10 dias teremos mudanças”.

Ela sabe quais são as mudanças, mas fez de conta que são boas para aquela massa. Marta pode cometer suicídio eleitoral porque deixaram de lhe entregar algo que Lula lhe prometeu — essa, ao menos, é a versão que ela vende.

Se ela sai cada vez menor na fotografia, a ministra Katia Abreu, quem diria, vem dando uma demonstração de que a política não se restringe, necessariamente, aos aspectos mais baixos do ser humano, à esquerda e à direita.

Não se dobrou às pressões de seu partido para abandonar o governo e, na comissão especial do impeachment no Senado, defendeu o mandato de uma presidente eleita pela maioria.

Não só. Lembrou de um aspecto que parece detalhe: uma presidente honesta. “Também estou com a presidente Dilma porque acredito na sua idoneidade, honestidade e espírito público. Não confio e acredito naquele que faz, mas rouba. Jamais a apoiaria se tivesse viés de dúvida do seu caráter”, afirmou.

Abordou temas de sua área, explicando como funciona a concessão de subvenção de crédito agrícola para o Plano Safra, usado no pedido de impeachment sob a alegação de que os pagamentos foram atrasados. Para ela, não se pode tratar os contratos de subvenção a agricultores como empréstimos.

Deu um toco no senador Ronaldo Caiado, que estranhou sua “permanência”, devolvendo que não lhe deu “essa ousadia” de entrar em “questionamentos pessoais”. Caiado, lembrou ela, foi um dos 33 votos contra o impedimento de Color na Câmara.

Mais tarde, no Twitter, ela escreveu: “Minha defesa não é a partido ou grupos mas a cidadã Dilma que é correta e está pagando pelo que não fez. O futuro dirá. Minhas atitudes e princípios não mudam ao sabor do vento. Popularidade vai e volta mas o caráter e a dignidade se forem não voltam nunca mais.”

A nomeação de Katia Abreu, rainha do agronegócio, foi criticada por boa parte do PT e pelo MST. Marta Suplicy sempre foi poupada.

São duas mulheres fortes, decididas, de carreira consolidada. Se Marta decepcionou quem acreditava em seu estilo perua dos Jardins preocupada com os pobres — inclua-me fora dessa —, Katia surpreendeu no festival de traições e facadas nas costas com seu republicanismo.

E também, por que não, ao mostrar o valor de um artigo subestimado: o da amizade.