Lobos solitários terroristas são crias de asneiras como a Escola Sem Partido. Por Mauro Donato

Atualizado em 20 de julho de 2016 às 8:01

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Um jovem afegão armado com um machado atacou passageiros em um trem na Alemanha. Feriu 17, pelo menos 3 com gravidade. No domingo, o americano Gavin Eugene Long abriu fogo contra policiais e matou três. Na quinta-feira, o franco-tunisiano Mohamed Lahouaiej-Bouhlel a bordo de um caminhão provocou um massacre em Nice. Alguns dias antes outro americano, Micah Johnson, já tinha feito o mesmo que seu compatriota e matou cinco policiais.

Os episódios envolvendo os americanos têm clara explicação na reação ao racismo, às mortes de negros por policiais. Nos outros casos há indícios de atos terroristas e de ligação dos autores com o Estado Islâmico (até aí nada, hoje em dia é conveniente para muitos governantes imputar a culpa de qualquer coisa no EI assim como para o EI é vantajoso assumir a autoria, mesmo que não seja sua).

O aspecto que mais amedronta o mundo atual é a imprevisibilidade do modo de ataque individual associada a impossibilidade de uma prevenção. Impossível vigiar todo mundo o tempo todo. Mas como chegamos a isso? Por que estamos vendo tantos casos de revoltados solitários e por que é tão fácil conquistar adeptos a esse modus operandi?

Claro, ninguém é uma ilha, há sempre mais duas ou três pessoas que foram, no mínimo, cúmplices. Mas o discurso de facções como o Estado Islâmico encontra gente disposta a matar e morrer sozinha por se tratarem de indivíduos, antes de tudo, despolitizados. A revolta do mundo muçulmano contra o Ocidente que se cala para os atentados que lá ocorrem, superiores em quantidade e em números de vítimas é justa. Não o terror.

Atentados e milhares de mortes na Síria, no Iraque, ou no Paquistão, são tratados como notas de rodapé ou nem isso ao passo que qualquer evento desses no ocidente causa uma comoção hipócrita e bairrista (dos 32 ataques assumidos por grupos terroristas este ano apenas 4 foram no ocidente e o número de vítimas não chega a 10% das ocorridas no Oriente Médio e Africa).

O mundo ocidental se comporta mal, portanto. Mas só uma mente vazia permite ser preenchida com propósitos suicidas. E é aí que reside o problema de iniciativas abjetas como o Escola Sem Partido que deseja evitar exatamente a politização, o debate, a troca de ideias, a reflexão sobre as diversidades e as diferentes formas de se ver o mundo. Acredita que ensinando apenas o quanto é 3 vezes 7 estará cumprindo seu papel.

No caso dos americanos, há sempre quem lembre dos filmes de Hollywood nos quais o “um contra todos, contra o mundo, contra o universo” pode afetar a mente de desmiolados que saem agindo como se estivessem na pele de Rambo ou Bruce Willis e daí, mesmo que imbuídos de uma indignação justa, agem como se estivessem numa obra de ficção na qual seu sacrifício se dá no final do filme e a partir dali as injustiças desapareceriam. Mas um ensino fraco e ensimesmado – alguém aí disse despolitizado? – que já virou motivo de piada mundo afora (“Sabe por que os americanos promovem tantas guerras? Para aprender geografia.”), tem sua cota de responsabilidade.

Ensino fraco? Sim, os Estados Unidos até possuem as universidades mais prestigiadas do mundo, mas o ensino fundamental é de lascar. E são eles mesmos que afirmam. Segundo um estudo realizado em Harvard e Stanford conjuntamente, menos de 10% dos alunos da 4º série atingiram o nível avançado em leitura. Na 8º série foi ainda pior. Em termos de leitura, os alunos americanos aparecem em 14º lugar em um ranking, atrás de poloneses e sul coreanos. Uma legião de analfabetos políticos e individualistas com livre acesso a armas não pavimenta uma nação de franco atiradores?

O desespero que essas pessoas demonstram sentir a ponto de saírem fazendo justiça com as próprias mãos, é fruto de um quadro de descrença com a política que, senão de todo equivocada, baseada em ideias propagadas intencionalmente através de uma mídia que aposta no ‘quanto pior, melhor’, em facções terroristas aproveitadoras de jovens ignorantes em ideologias e em movimentos alienantes como o Escola Sem Partido. Esse vácuo existencial gera presas fáceis para essas aberrações. Sem conhecer, sem ouvir e muito menos entender o outro, saem dispostos a consertar o mundo numa tacada só.