A Lojas Marisa mostrou que ser canalha também é uma questão de timing. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 13 de maio de 2017 às 17:43

Que publicitário tem um lugar garantido no inferno a gente já sabe: se você puder fazer com que as pessoas comprem, com que tenham certeza de que precisam comprar, eles pensam, a ética é só um detalhe. Apenas faça com que as pessoas comprem.

A derrapada feia da última campanha publicitária da Marisa, entretanto – aquela loja de artigos femininos que já foi acusada de explorar trabalho escravo (alô, Marisa, não esquecemos!) – é inacreditável até mesmo vinda de um publicitário (ou de uma equipe inteira, o que seria ainda mais inacreditável).

Eles tiveram a brilhante ideia de aproveitarem o calor do depoimento de Lula a Moro – o assunto mais comentado do país há dias – pra fazerem um trocadilho primário e sem criatividade com o nome de Marisa Letícia, morta este ano.

“Se sua mãe ficar sem presente, a culpa não é da Marisa.”

Gênios. Ri alto. Isso é o que eu chamo de timing perfeito. Uma verdadeira lição de senso de oportunidade.

Porque é claro que vou querer comprar uma blusinha com estampa cafona por 30 reais numa loja que pratica exploração pós-morte com uma mulher.

Que não se importa com o peso da morte, com a dor da família e com o respeito que ainda deveria nos restar porque o importante é vender.

Capaz de a coxinhada abandonar a Shultz e passar a comprar oxfords dourados na Marisa.

Vão se identificar com o ódio, o desrespeito e a insensibilidade, que pra eles sempre estiveram na última moda.

Para as mulheres de classe média baixa, no entanto – o seu público clássico – a Marisa está, depois dessa, a sete palmos do chão.

Não importa se acreditamos em Lula. Não importa o que Lula disse. Nem sempre o homem importa prioritariamente. Às vezes estamos falando de uma mulher. Do respeito à sua memória. Do respeito a todas as mulheres que sabem que morte não é marketing. O respeito que a Marisa não tem.

Não adianta demitir o cara do marketing que faltou à aula de ética na faculdade (eles têm aulas de ética na faculdade?): uma piada tão infame continuará sendo difícil de corrigir.

O jeito é mudar o nome da loja e aumentar escatologicamente os preços para atender às demandas do novo público: as pseudogranfinas da classe média brasileira que são pseudogranfinas porque pensam que são ricas e só riram do trocadilho desumano porque ignoram que desrespeitar uma mulher – viva ou morta – significa desrespeitar todas as mulheres.