Mãe mata filho, a namorada dele e depois se suicida: uma tragédia familiar sob a ótica do preconceito

Atualizado em 10 de novembro de 2014 às 15:53
Mariana Rodella e o namorado Giuliano Landini, mortos pela mãe dele
Mariana Rodella e o namorado Giuliano Landini, mortos pela mãe dele

 

Mãe mata o próprio filho e a namorada dele e depois enfia o cano do revólver 38 na boca e comete suicídio.

Na última sexta-feira, Elaine Munhoz, 56 anos, pediatra, atingiu a estudante de medicina Mariana Rodella no ouvido e no braço. Giuliano Landini tinha perfurações no braço, rosto e coração.

Um grande jornal paulista conta essa tragédia humana com detalhes, digamos, sórdidos. Não, não exagera na morbidez. Vamos lá:

Já no primeiro parágrafo, com os mesmos dados do primeiro parágrafo, o jornal acrescenta que o crime ocorreu em um “apartamento de alto padrão”.

Pausa para reflexão. O que isso teria de importância?

Dois parágrafos abaixo, o jornal volta à carga, informando que o apartamento está avaliado em R$ 1,4 milhão. Afinal, estávamos em uma tragédia ou no mercado imobiliário?

Por que histórias como essa precisam causar “estranhamento” com relação ao bairro e ao imóvel bem avaliado? Se fosse na periferia estaria adequado?

O bordão “acontece nas melhores famílias” parece ter contaminado corações e mentes e é repetido exaustiva e historicamente sem nenhuma reflexão. Aliás, se atualizado, talvez o bordão devesse ser alterado para “só acontece nas melhores famílias”. Afinal, pouco ou nada lemos acerca de matanças em família ocorridas entre as “piores famílias”. Pobres não matam o próprio pai, a própria mãe ou os próprios filhos? Talvez, mas se ocorrer, isso seria normal e sequer digno de notícia.

Ou, na verdade, nunca vemos esse tipo de calamidade shakespeariana fora dos dos imóveis de alto padrão pois elas não ocorrem? Famílias ricas são mais “doentes” que famílias pobres?

Ou seja, na verdade seria até desnecessário situar onde ocorreu pois só pode ter ocorrido onde o individualismo, a disputa por heranças, o consumismo desenfreado de futilidades resulta em desvios psíquicos. É isso?

Portanto, em vez de ficar destilando e eternizando preconceitos, os jornais deveriam se perguntar se isso ocorre muito mais frequentemente nas “melhores famílias” e questionar se por acaso não possuem nenhum grau de influência sobre isso. A grande mídia deveria estancar seu discurso carola e instigar o cidadão a fazer algo mais em prol da sociedade? Estar corretamente bem informado já seria um avanço.

O Notícias Populares se deleitava com esses casos. Dizíamos que se torcêssemos o jornal, pingava sangue. A atual grande mídia parece que chacoalha o cadáver para detectar se há moedas.