Marcelo Freixo e a utopia da esquerda. Por Leo Mendes

Atualizado em 3 de outubro de 2016 às 15:23
Marcelo Freixo, o candidato do PSOL
Marcelo Freixo, o candidato do PSOL

A chegada do candidato do PSOL Marcelo Freixo ao segundo turno no Rio de Janeiro já pode ser considerada uma grande vitória.

Freixo tinha 11 segundos de propaganda na TV, contra 3 minutos e 30 segundos do candidato do PMDB Pedro Paulo, terceiro colocado na disputa e a campanha mais cara do país.

Freixo é também criminosamente perseguido já há muitos anos pela Globo, grupo empresarial que sempre guardou um carinho materno pelo atual prefeito do Rio Eduardo Paes, padrinho político de Pedro Paulo.

A Globo chegou no mês passado a oferecer uma medalha de ouro a Paes, na coluna de Noblat, um dos principais porta-vozes da família Marinho. Não se sabe se o mimo era pelas Olimpíadas ou pelos fartos anúncios que Paes sempre monopolizou no jornal em que Noblat escreve.

Já contra Freixo, a Globo chegou a produzir manchetes históricas, exemplares perfeitos do jornalismo marrom que praticam, como a do “estagiário do advogado diz que ativista vândalo afirmou ter ligação com Marcelo Freixo”, dias depois da morte do cinegrafista Santiago.

Freixo só podia contar com o apoio de “burguês metido a pobre” e “vagabundos”, segundo a vice de Pedro Paulo, Cidinha Campos.

A neta de Cidinha respondeu então que achava “melhor burguês metido a pobre do que burguês que odeia pobre”, e confirmou o voto em Freixo. Estavam criados os melhores memes dessa eleição.

Foi uma vitória dos memes, do engajamento de jovens nas ruas e nas redes, uma vitória das mídias alternativas, do acesso à internet.

Uma vitória da militância, dos movimentos sociais, de  defensores do estado laico, dos direitos humanos, da distribuição de renda…

Uma vitória contra a TV, contra o jornalão, contra Cidinha, Temer, Cunha, PMDB.

Contra o atraso, o conservadorismo, a extrema-direita, fascistas, tucanos, banqueiros, bolsonaros.

Uma vitória da utopia de todos aqueles que ainda acreditam ser possível. Que acreditam que o voto é sua arma, e que eleger um bom governante pode de fato melhorar o mundo.

Talvez isso também esteja perto de acabar, e já não possamos sequer sonhar com um governo digno.

Na maioria das cidades já é assim.

Com a disputa agora entre o coronel e o bispo. Ou com o lobista eleito em primeiro turno.