Marina Silva está fora do eixo?

Atualizado em 19 de agosto de 2013 às 18:55

Ela pode não ser  o Capilé de saias, mas a transparência faria bem à sua candidatura.

Ela
Ela

Marina Silva, candidata à presidência em 2014, tem um problema parecido com o de Pablo Capilé, o líder do Fora do Eixo: falta de clareza. Inclusive clareza de propósito. A ligação do coletivo com ela é notória, não é recente e nenhum dos dois lados nunca tentou esconder isso. Existe uma afinidade eletiva.

Como Capilé, Marina é dona de uma fala elíptica e repleta de jargões que, eventualmente, não juntam lé com cré. E, na hora de pôr em prática conceitos caros a esse discurso, como a transparência, o caldo dá uma entornada.

Em entrevista à Folha, ela não admite que é candidata. “Digo que não estou no lugar de candidata, que a candidatura é uma possibilidade”, disse. Qual o problema em admitir que concorre ao pleito em 2014? Mistério.

Quando perguntada sobre a relação próxima com o economista André Lara Resende, membro da equipe criadora dos planos Cruzado e Real, joga a bola no colo de Lula. “Se Lula fosse se preocupar em ter ouvido uma série de pessoas que já deram contribuição em vários governos, ele não seria hoje o grande admirador do Delfim [Netto] que ele é”. Sobre o Fora do Eixo e a Mídia Ninja e o Fora do Eixo, afirmou que “o que merece reparação deve ser reparado. Se tem que algo a ser investigado, tem de ser investigado.”

Marina está tentando homologar o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, junto ao TSE. Não se chegou ao número necessário de assinaturas. Das 850 mil que se alega ter amealhado, apenas 250 mil seriam válidas. Até agora, calcula-se que os gastos nesse processo foram de 800 mil reais. Quem pagou a conta?

Mistério. O Estadão perguntou e ouviu que “são centenas de doadores financeiros que contribuíram com os gastos até o momento e milhares de pessoas que doaram seu tempo, em coleta de assinaturas, em processamento e relação com cartórios. Empresários, intelectuais, profissionais liberais, jornalistas, estudantes e donas de casa estariam entre as pessoas que se dispuseram a bancar o movimento”.

O deputado Walter Feldman (PSDB-SP), um dos “articuladores” da Rede, disse o seguinte: “Tudo que é movimento de caráter político tem de ter divulgação de números, de gastos. A Rede quer fazer isso de maneira total, até antes de ser criada.” Sobre Feldman: o que um pessedebista está fazendo como articulador da fundação de outro partido? Não é o mesmo Feldman que, no ano passado, atuou como coordenador da campanha de José Serra à prefeitura, batendo em Haddad porque era “uma mistificação de que o novo pode ser melhor”? Aquele Feldman que estaria por trás do dossiê contra Gabriel Chalita?

Marina foi adotada por artistas como Adriana Calcanhoto, Nando Reis, Arnaldo Antunes e o óbvio Wagner Moura — que a vê como “um avanço para o Brasil”. Apareceu bem nas pesquisas depois das manifestações. Uma alternativa ao status quo.

Como Pablo Capilé, Marina tem alguns traços idiossincráticos que muitos acham que é carisma. Além de um certo messianismo, seus correligionários sabem que ela não pode ser incomodada na hora do jejum religioso, por exemplo. Ela é fiel da Assembleia de Deus e não esconde isso de ninguém. Mas tirar de MS uma posição clara e límpida sobre o aborto ou as drogas, por exemplo, é complicado. Mais fácil entender a explicação de Capilé de como funcionam a “capilaridade” e os “fluxos de metodologia”  de sua organização.

Transparência não é uma palavra oca. Uma coisa, ao menos, parece certa: quem está financiando a Rede não está usando CuboCards.

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