“Marta traiu! É inaceitável o que ela fez”: Erundina fala ao DCM na TVT. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 21 de julho de 2016 às 19:12
Erundina
Erundina

 

O QG de Luiza Erundina em São Paulo fica no bairro de Mirandópolis, zona sul, numa rua estreita, cheia de curvas e com aquela superpopulação de carros absurdamente típica da cidade.

Erundina articula daquele sobrado, com o auxílio da eterna Muna Zeyn, sua campanha à prefeitura. No quinto mandato de deputada, ela aparece na mais recente pesquisa Ibope em terceiro lugar, atrás de Celso Russomanno e Marta Suplicy, à frente de Fernando Haddad e João Doria Jr.

Erundina foi candidata do PSOL à sucessão de Eduardo Cunha na presidência da Câmara. Tinha consciência de que não ia ganhar.

Ficou com a merreca de 22 votos, foi acusada de personalista, mas causou barulho e marcou posição. “Se dependesse do povo, Luiza Erundina estaria eleita presidenta da Câmara, colocando os comparsas de Cunha pra correr”, escreveu Dilma nas redes sociais.

“Foi para tentar uma articulação da esquerda”, disse ela à equipe do DCM na TVT (Max Alvim, Marcelo Godoy, José Cássio e eu) que foi entrevistá-la.

“Como é difícil aprovar uma reforma política, vamos ensaiando uma mudança dentro das nossas condições, sem ter que arcar com a maioria esmagadora do centrão e os remendos na legislação eleitoral mais distorcem do que corrigem”.

Segundo ela, a experiência serviu para dar-lhe algo que lhe é negado: visibilidade. “Minha candidatura saiu 24 horas antes. Isso me tirou da invisibilidade, pois não apareço na mídia tradicional, que não gosta de mim”.

Aos 81 anos, Erundina tem uma energia invejável. Transformou sua luta parlamentar num antídoto contra o envelhecimento. Fala com paixão, vibra, se entusiasma, briga. O “protesto” na Mesa Diretora, atrás da cadeira de Cunha, foi um grande momento.

Sua indignação sobe um tom quando o assunto é a imprensa.

Ela foi relatora da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, criada para, em tese, analisar os critérios no setor das comunicações.

Revela que passou, a partir daí, a sofrer pressão apenas por causa de medidas como, por exemplo, pedir para examinar critérios de renovação de concessões.

“Descobri que a luta pelas telecomunicações é parecida com a luta da reforma agraria. Eu encontrei, na comissão, o monopólio, as renovações automáticas, as outorgas… Eles elegem e derrubam presidentes. Se não fizermos essa reforma, nunca teremos democracia”, afirma.

“Os meios de comunicação me vetam. Anos atrás, me desconvidaram para um debate ao vivo na Bandeirantes. O produtor me disse que eu era inimiga da Band, do Johnny [Saad, dono da emissora]. Eu estava propondo uma audiência pública com concessionários e usuários — os donos de verdade, o povo. Não se respeitam a regionalização da programação e outros direitos constitucionais”, diz.

Erundina conta que pediu explicações ao Ministério Público Federal sobre o processo de sonegação da Globo na compra dos direitos da Copa do Mundo de 2002. “Não prosperou, eles barram… Não interessou ao governo [do PT] ir junto. A Globo é muito poderosa. Muito dessa crise não se deu pelos erros da Dilma e do Lula, mas pelos poucos acertos. Eles tinham as condições e a força política de alterar as regras de concessão e outorga, não tiveram vontade e não fizeram nada.”

“Que liberdade de expressão é essa? Se mexer nesse tema eles dizem que é censura, coisa de bolivarianos. Eu não sou amiga das emissoras de TV. Sou invisível”.

Para Erundina, a internet é a revolução que veio para democratizar a informação. Ela ganhou notoriedade nacional quando foi eleita prefeita em 1988. Por que voltar ao cargo?

“Temos que fazer melhor que a direita. Eu não tive força política. Precisa comprar vereador e a direita faz isso muito melhor há 500 anos”, diz.

Erundina lembra que correu o risco de perder seu mandato. “Mas eu tinha apoio popular, diferente da Dilma”, conta. “O TCU rejeitou minhas contas, coisa que jamais havia feito antes. O povo acampou na frente da Câmara municipal e barrou.”

Por que a população não saiu às ruas para defender Dilma? “Lula domesticou o movimento sindical”, afirma. “Quando ele assinou a Carta aos Brasileiros, ele capitulou”.

Em junho, ela classificou o governo de Haddad como “medíocre” em entrevista ao Estadão. Resolve, agora, contemporizar, provavelmente de olho numa possível aliança mais adiante. “O termo certo é conservador. Ele conseguiu uma boa negociação na dívida da cidade, mas tem que ir além. Isso é o que eu quero fazer. Tem que distribuir desigualmente os recursos públicos. Tem que tratar desigualmente os desiguais”, fala.

Marta, por sua vez, “foi mais ousada” que Haddad. O problema dela é de outra natureza. “Ela traiu! É inaceitável o que a Marta fez. Ela usou como pretexto que ia sair de um partido corrupto e foi para o PMDB do Cunha, do Temer e do Renan. Por favor!!! Não dá… E no pior momento do PT. Marta queria ser presidente e ainda sonha em ser presidente”.

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