Miguel Falabella, Pelé, o sexo e as negas

Atualizado em 14 de setembro de 2014 às 23:10
Falabella e as atrizes do seriado
Falabella e as atrizes do seriado

 

Miguel Falabella e Pelé andam de mãos dadas na hora de refutar manifestações legítimas de combate ao racismo. A opinião de Falabella sobre as críticas à série “Sexo e as Negas” e o depoimento de Pelé a respeito das agressões racistas contra o goleiro Aranha mostram como os dois são desconectados da realidade.

Falabella usou o Facebook para rebater as críticas de que a sua nova criação apresenta uma visão estereotipada das mulheres negras. “Como é que saem por aí pedindo boicote ao programa, como os antigos capitães do mato que perseguiam seus irmãos fugidos?”

Utilizou a tática de transformar o agredido em agressor. Pelé fez o mesmo ao falar do goleiro santista que reagiu a insultos racistas da torcida do Grêmio. “O Aranha se precipitou em querer brigar com a torcida. Se eu fosse querer parar o jogo cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, todos os jogos iriam parar”.

Falabella ignora as mais de 23 mil curtidas da página do Facebook que pede o boicote ao programa, só para citar uma das manifestações de repúdio a “Sexo e as Negas”. Pelé, por sua vez, fala como se os negros devessem agradecer aos céus por não serem mais escravizados.

Os dois parecem viver em um universo paralelo e sem acesso às estatísticas relativas à população negra, embora as informações estão aí para quem tiver a boa vontade de ver.

Na mesma semana em que eles se manifestaram a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou um informe onde afirma que o racismo no Brasil é “estrutural e institucionalizado”. Segundo o documento, “o Brasil não pode mais ser chamado de uma democracia racial e alguns órgãos do Estado são caracterizados por um racismo institucional, nos quais as hierarquias raciais são culturalmente aceitas como normais”.

Não há novidades nas conclusões da ONU. A entidade só ratificou informações que estão disponíveis há anos, acessíveis sem muito esforço com uma pesquisa rápida na internet.

Miguel Falabella, que se afirma suburbano, deveria se debruçar sobre esses dados para sair da bolha de igualdade racial onde se encontra. Ele disse, no Facebook, que a ideia de “Sexo e as Negas” surgiu em uma feijoada na Cidade Alta de Cordovil.

Cita uma “negra maravilhosa, montada, curvilínea e muito sexy” que irradiava “autoestima”. Não há meios de Falabella atravessar a zona do senso comum.

Quanto a Pelé, acredito que não haja estatísticas, estudos, livros ou palestras que o façam mudar de opinião sobre o racismo. Ao contrário do louro Falabella, ele já sofreu racismo e tem todos os motivos para demonstrar uma visão menos tacanha da discriminação racial.

O problema é que ainda há pessoas inocentes o suficiente para acreditarem nas ideias limitadas desses dois quando o assunto é racismo.