Milton Neves é o mais caricato representante do “machão à moda antiga”. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 17 de agosto de 2016 às 9:38
Bobo alegre
Bobo alegre

O jornalista esportivo Milton Neves, da Bandeirantes, teve a infelicidade de comentar a derrota da seleção feminina de futebol no Twitter – sendo fiel à imagem de machão grosseiro que ele mesmo faz questão de alimentar:

“Futebol de mulher é como gordo comendo salada: não tem graça nenhuma.”

Neves é o mais caricato representante do “machão à moda antiga”, que você provavelmente já conhece, porque há exemplares por toda a parte: é aquele que vê futebol porque é coisa de homem, bebe cerveja porque é coisa de homem, briga e fala alto porque é coisa de homem, faz piadas machistas e homofóbicas porque é coisa de homem e quase nos faz acreditar que ser um imbecil preconceituoso é que é “coisa de homem”.

Graças a esse protótipo, há uma odiosa rotulação segundo a qual esporte – futebol, sobretudo – está adstrito aos homens: só eles jogam bem, só eles comentam bem, só eles merecem serem ouvidos, e foi justamente esse rótulo que o jornalista fez questão de reforçar em seu Twitter.

E essa não foi a primeira vez: em nome da manutenção da imagem de macho durão, Neves já protagonizou brigas homéricas com Justus e Roberto Avallone, por exemplo – a quem chamou de homossexual em rede nacional, como se isso fosse ofensivo – e até com Datena, que é, aliás, quase seu gêmeo no jornalismo sensacionalista: Neves está para o jornalismo esportivo retrógrado assim como Datena está para a espetacularização das desgraças alheias.

O fato é que dessa vez Milton Neves passou dos limites. A macheza frágil que precisa ser confirmada a cada oportunidade – atacando o futebol feminino, inclusive – cegou-o a ponto de ele, um jornalista esportivo com uma carreira sólida, demonstrar desconhecimento sobre aquilo que tem a obrigação de conhecer profundamente.

O protótipo do machão está fechado tão hermeticamente em sua bolha machista heteronormativa que é incapaz de reconhecer os inegáveis méritos da seleção feminina de futebol.

Ignora os cinco bolas de ouro de Marta, a estreia vitoriosa da seleção brasileira por 3 a 0 contra a China e a goleada por 5 a 1 em cima da Suécia. Ignora que gordos comendo salada realmente não têm graça, e gordos comendo bacon também não têm graça, porque gordos não existem para fazerem rir.

O pior é que esse tipo de comentarista ainda desfruta de algum respeito na “grande” mídia, embora não combine em nada com a nova geração.

Ainda se fala que Marta é “Neymar de saia” sem nenhum constrangimento, não porque ninguém se ofende com isso, mas simplesmente porque a televisão ainda é um espaço de pouquíssima interação.

Mas no Twitter – sinto muito, Neves – o buraco é mais embaixo. A patrulha-esquerdopata-politicamente-correta, se assim preferem chamar, estará lá para constranger todo aquele que mantiver um posicionamento machista e retrógrado.

Neves é do tipo que gosta de ser aplaudido a qualquer custo, e consegue, muitas vezes, não pela profundidade do discurso, mas pelo tom arredio e grosseiro que caracteriza justamente o ápice do que se pode chamar de “coisa de homem”, mas, desta vez, exposto ao olhar crítico e inflamado das minorias, escorregou feio e foi exposto ao ridículo pelos internautas.

Ponto para eles. A ideia não é calar os preconceituosos, é justamente expô-los ao ridículo – o que é facílimo, na verdade. Antes de destilarem preconceito no Twitter, machos à moda antiga precisam aprender: nesta geração, a internet é o espaço em que se costuma constranger o machismo naturalizado.

Em tempo: a seleção feminina de futebol é um orgulho nacional, quer queiram os comentaristas retrógrados da velha-guarda, quer não.