Montado num fiasco 5 meses depois de assumir, Temer vende o peixe da herança maldita. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 30 de setembro de 2016 às 18:52
"Saudade de Belchior, Fagner e a Turma do Balão Mágico"
“Saudade de Belchior, Fagner e a Turma do Balão Mágico”

 

Em maio, ao assumir interinamente a presidência, Michel Temer prometeu aos brasileiros a salvação.

Cercado dos homens de sua falocracia, garantiu: “É preciso recuperar a credibilidade do Brasil no cenário nacional e internacional e adotar medidas que cortem os gastos públicos e atraiam investimentos para combater a elevada inflação e o desemprego crescente”.

Os “mercados” — alguém um dia vai explicar o que isso significa —, que apostaram no impeachment, estavam radiantes. O nome de Henrique Meirelles foi saudado como o de Jesus Cristo. José Serra ainda era um brilho nos olhos de seu tio.

No início de setembro, no G20, o empossado Michel falou que o país ia voltar a crescer com as reformas. Um incrível plano de privatizações e concessões estava sendo gestado.

“O desafio econômico mais urgente é de ordem fiscal”, contou à imprensa. “Nosso objetivo principal é promover o ajuste estrutural do gasto público em um horizonte de 20 anos”.

Ele já vislumbrava “sinais positivos no horizonte”. “Os indicadores de confiança, tanto no agronegócio como na indústria, cresceram enormemente. A confiança está crescendo e, quando a confiança cresce, o emprego começa a aumentar”, afirmou.

Deu ruim.

Ao ver que a coisa não saiu do chão, Temer sacou da cartola nesta sexta, dia 30, o truque mais velho do livro dos demagogos: a herança maldita.

Num evento da Exame, da Abril, ele pintou um cenário macabro: inflação em alta, investimentos nulos. Em suas palavras, a crise mais grave da nossa história. “Por trás desses dados estão homens e mulheres que pagam um preço inaceitável. Chegamos a quase 12 milhões de desempregados”, lembrou.

E o fecho de ouro: “Reitero que não foi culpa minha.”

O PMDB foi sócio dos governos lulodilmistas. Temer foi vice de Dilma de 2011 a 2016. O partido teve sete ministérios. Nestes cinco meses, ele poderia ter mostrado a que veio, ao menos nas intenções. Falhou miseravelmente adotando o programa do PSDB.

Essa conversa mole não engana nem sequer a quem quer ser enganado. Temer não tem popularidade e, menos ainda, legitimidade. O desastre ambulante, vendido como grande negociador, se confirmou. A paciência de seus patrocinadores foi para o ralo.

O fracasso bate à porta, ele sabe que cai em 2017 nesse ritmo e o único responsável é o sujeito que um dia Temer encontrou no espelho de casa, recitando uma carta vagabunda para a ex-chefe.

A saída? Telefonar para o Faustão e pedir aquele help.