Moro precisa explicar por que testemunhou um crime de vazamento em plena audiência e nada fez. Por Zambarda

Atualizado em 14 de abril de 2017 às 13:08
Moro

 

Uma cena inusitada, mas de certo modo previsível diante do absurdo do Brasil, ocorreu durante o depoimento de Marcelo Odebrecht a Sérgio Moro no último dia 10 de abril.

A alturas tantas, um dos advogados do dono da empreiteira avisou o juiz que tudo estava sendo “transmitido” em tempo real.

O Blog da Cidadania, de Eduardo Guimarães, transcreveu o diálogo.

“Antes que Vossa Excelência encerre a gravação, estou vendo aqui, no site Antagonista, que o depoimento do senhor Marcelo está sendo transmitido, neste exato momento, em tempo real, de sorte a desrespeitar a determinação de Vossa Excelência do segredo de Justiça. Está aqui. Quer que eu coloque para Vossa Excelência? E só pode ser vazado daqui de dentro. Então, nós estamos numa situação de flagrância. É só entrar no site e ver”, disse o advogado Nabor Bulhões por volta das 15h30.

Moro respondeu com balbucios.

Na sala, havia em torno de 15 pessoas: três procuradores da Força-Tarefa da Lava Jato, vinculados ao Ministério Público, policiais federais, Bulhões e seus dois sócios, além de Odebrecht e Moro.

Moro permitiu também a entrada de quatro defensores da Petrobras.

Depois de gaguejar, o magistrado interrompeu a gravação da seção por alguns minutos para retomar como se nada houvesse acontecido.

“É provável que alguém do MP estivesse gravando o áudio e transmitindo para o jornalista Cláudio Dantas do Antagonista, porque o depoimento foi transcrito com fidelidade”, disse ao DCM um dos presentes ao interrogatório.

Quando praticado por funcionário público, vazamento é crime. A violação do sigilo está no artigo 325 do Código Penal.

Houve um flagrante diante de Moro e este nada fez. Bastava solicitar os smartphones dos presentes, descobrir quem vazou e tomar as providências cabíveis.

No mínimo, identificar o vazador e, em tempo hábil, puni-lo.

A situação chegou ao cúmulo do Antagonista noticiar que Moro “reclama de vazamentos”.

Sérgio Moro se autodesmoraliza completamente. À BBC Brasil, falou que investigar vazamentos era como “caçar fantasmas”.

Essa parceria com o Antagonista tem potencial explosivo.

Diogo Mainardi, um dos donos do blog de extrema direita, foi delatado por Henrique Valladares, ex-vice-presidente da Odebrecht.

Em sua justificativa, Mainardi alegou que Valladares “inventa coisas”. “Serve de alerta à Lava Jato”, escreveu, dando conselhos legais a Moro.

Enquanto vivermos numa democracia, não há possibilidade de essa parceria acabar bem.