Nada representa melhor o Brasil do que um juiz chamado Napoleão que redime Pilatos. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 9 de junho de 2017 às 18:27

Eu sei que você está cansado da expressão “o Brasil é o país da piada pronta”.

Mas considere.

A grande figura do último dia desse julgamento do processo de cassação da chapa Dilma-Temer, a estrela do espetáculo, é um juiz chamado Napoleão.

Espera. Tem mais.

Com sua basta e bem tratada cabeleira, Napoleão Nunes Maia leu seu voto e simplesmente redimiu Pôncio Pilatos.

Pilatos, aquele que lavou as mãos e entregou Jesus à multidão, “tinha a admiração que tem vossa excelência hoje no Brasil”, declarou, referindo-se ao presidente da corte, Gilmar Mendes.

A sessão fora suspensa depois que ele se exaltou ao se defender de acusações de que teria beneficiado delatores da OAS.

“Pôncio Pilatos tentou democratizar decisão e perdeu o controle”, falou Napoleão.

O colega Admar Gonzaga completou: “Ele não era um juiz frouxo, era um juiz determinado”, disse. Gilmar agradeceu Admar.

Napoleão já estava roubando o show. Seu filho, com um envelope debaixo do braço, tentou burlar a segurança para entregar, segundo o ministro, “fotos da neta”.

Ele foi impedido de entrar porque não estava trajado de acordo com a ocasião, que exigia paletó e gravata (vestia uma camisa polo). 

Exaltado, Napoleão lembrou que chegou a ser questionado na igreja que frequenta sobre a citação de seu nome em delações.

“Respondi que com a medida com que me medem serão medidos. E sobre eles desabe a ira do profeta. É uma anátema islâmica. Ira do profeta, não vou dizer o que é, mas vou fazer um gesto do que é a ira do profeta”, declarou, passando a mão à frente do pescoço, imitando uma degola. “É isso que eu quero que caia sobre eles”.

Agora, para ficarmos em fábulas e analogias bíblicas, se Gilmar Mendes é Pilatos, quem é Jesus Cristo?

Nós mesmos, ora.